Capítulo 2 –
Troublemaker
Nem todo casco é totalmente
impenetrável.
– Ano... Maeda-san. – Jun chamou, alguns metros atrás dela.
Yuuki parou e virou-se em
direção a quem a chamara. Não ficou de todo assustada ao constatar que era Jun –
havia batido em seu carro, mais cedo.
– Matsumoto Jun deshita. Yoroshiku onegaishimasu. – Jun
curvou-se, sorrindo. Ela, no comando da empresa, poderia ser sua chance de
seguir solo. Bastava que tivessem uma boa relação.
– Eu sei quem você é. – Yuuki
disse, sem conter uma pontada de irritação na voz. Nesse momento, Jun percebeu
que teria que lutar para conquistá-la.
– Você deixou isso no para-brisa
do meu carro. – mostrou o cartão, sorrindo. – Não precisa se preocupar.
– Faço questão de arcar com o
prejuízo que lhe causei. – ela teve a satisfação de ver o sorriso forçado de
Jun se desmanchando e sua face sendo tomada por rubor.
– Se insiste, assim que arrumar,
volto a falar com você. – Jun deu-se por vencido. Sua pouca paciência havia
esgotado e se não saísse dali logo, acabaria falando coisas desnecessárias.
– Mais alguma coisa? – Yuuki já
lhe dava as costas e antes que ele pudesse responder, havia virado ao fim do
corredor deixando um Jun atônito para trás.
Yuuki, enquanto morava na China
procurou manter-se informada sobre os grupos japoneses e invariavelmente, Jun
saltava-lhe aos olhos. Ela percebeu que havia mais ambição e falsidade nele do
que as câmeras poderiam mostrar e que o restante do grupo lutava para manter a
imagem de união que eles mostravam. Quando Johnny Kitagawa lhe contou sobre o
pedido ambicioso de Jun, ela teve certeza sobre seus palpites e decidiu que ele
não teria vida fácil quando assumisse o comando. Ele lhe lembrava um velho
conhecido seu.
Jun ainda tentava entender o que
acontecera, quando as portas do elevador se abriram. Naquele corredor havia
quatro salas: do Arashi, do NEWS, do Kanjani8 e uma pequena de reuniões. Seguiu
para a sala do Arashi perguntando-se qual era o problema daquela mulher – ele
raramente tinha dificuldades para conseguir o que queria com as mulheres.
Era raro encontrar a sala vazia
e Jun lembrou que eles provavelmente estariam em alguma reunião sobre seus
próximos trabalhos. Mais raro ainda, era o fato dele ter algum tempo livre até
seu próximo compromisso e este foi gasto pensando em algumas maneiras de
conquistar, ao menos a confiança da sucessora de Johnny Kitagawa.
– Eu sei quem você é.
Essa frase ecoava em sua cabeça
e ele se recusava a acreditar que ela realmente soubesse. Certamente estava se
referindo ao seu nome.
Perdido em pensamentos, Jun
entrou no carro e pôs-se a procurar seu celular. Olhou nos bolsos das calças e
do casaco e não encontrando nada, sentiu uma pontada de pânico. Ele precisava
consultar sua agenda no celular, porque apesar de saber que tinha algum
compromisso, não fazia ideia do que poderia ser.
Ciente de que estava atrasado
para qualquer que fosse seu compromisso, Jun voltou ao prédio da JE andando a
passos largos e rápidos. Quando abria a porta da sala do Arashi, viu de relance
Nishikido Ryo entrando na pequena sala de reuniões.
Sentiu uma onda de alívio ao ver
o celular sobre a mesa. Apressou-se pelo corredor enquanto conferia a agenda,
detendo-se ao ouvir pela porta entreaberta, a voz sussurrada de Ryo e mais
alguém. Tomado pela curiosidade, Jun espiou pela fresta e pôde ver claramente
Yuuki e Ryo. Mantinham a conversa aos sussurros e alguma distancia entre si. A
atmosfera pesada da sala mostrava que não era exatamente uma conversa amigável.
– Eu sei que eu errei! – Ryo
sussurrou, aproximando-se de Yuuki. Jun percebeu o desespero estampado em sua
face.
– Ótimo! Fico feliz que
finalmente tenha se dado em conta de seu erro. – Yuuki sorriu falsamente.
Estava claro que não havia felicidade alguma ali.
– Yuuki, me perdoe! – Ryo venceu
a distancia entre eles e ajoelhou-se aos pés dela.
– Realmente espera que eu o
perdoe? – ela afastou-se dele, a hostilidade em sua voz – Tantos anos se
passaram, não é? Não se preocupe em me oferecer seu falso pedido de perdão,
Nishikido. Sei separar meus problemas pessoais da vida profissional e espero o
mesmo de você.
Ryo abriu a boca para dizer
algo, mas foi interrompido.
– Melhor, não espero nada de
você! Só lembre-se de nunca mais referir-se a mim pelo primeiro nome, se não
quiser que todos saibam quem você é.
Jun percebeu que a conversa
havia chego ao fim e retirou-se rapidamente, de modo que o corredor estava
deserto quando Yuuki deixou a sala.
Chegou à gravação do VS Arashi
ainda mais atrasado que o normal. A maquiadora arrancou o cigarro de sua mão
enquanto depositava uma grossa camada de maquiagem em sua face, reclamando
sobre sua olheiras. As noites insones estavam acabando com ele.
Durante toda a gravação deixou
sua mente vagar em suposições sobre o possível relacionamento dos dois. Invariavelmente,
aquele sorriso amarelo estava estampado em sua face, mesmo que sua mente
estivesse longe.
Sem dúvidas, havia algum tipo de
proximidade entre Ryo e Yuuki, considerando que ele a chamara pelo primeiro
nome e que ela mencionara algo sobre muito tempo atrás. Pela maneira com que
Ryo desculpava-se tão desesperadamente, certamente havia feito algo ruim.
Jun ignorou os olhares
repreensivos que os quatro lançaram a ele quando deixou o estúdio. Se dissera
duas frases durante toda a hora de gravação, fora muito. Repreendeu-se por não
estar se esforçando para crescer sob
os olhos do chefe... mas afinal, agora deveria dar atenção à Yuuki.
Pensou em parar no pub a caminho
de sua casa para beber, imaginando se encontraria Ryo, afinal, sempre bebiam
juntos naquele lugar. Dirigiu até lá, e entrou no local: se Ryo não estivesse
lá, a parada não seria de todo perdida, pois, ao menos poderia beber uma boa
cerveja gelada.
Passou os olhos pelo local,
praticamente vazio e, com um sorriso brincando em seus lábios, viu Ryo sentado
num banco alto em frente ao balcão. Sentou-se ao seu lado e pediu uma cerveja,
virando-se para cumprimentá-lo. Com o primeiro olhar de perto, Jun percebeu que
ele já havia bebido mais que o normal e estava bastante alterado.
Num impulso, pediu mais uma
cerveja e logo, Ryo praticamente bebia sozinho. O mais novo do Arashi pensava
se a bebida soltaria a língua do tão calado e misterioso Nishikido Ryo sobre
seu passado com a sucessora do trono
na Johnny’s Enterteinment.
Ryo costumava ser um casco
impenetrável e raramente deixava transparecer o que se passava por sua cabeça.
Mesmo seus colegas de grupo desconheciam sua natureza ambiciosa e Jun sabia que
esta era uma rara oportunidade para satisfazer sua curiosidade.
No céu escuro do lado de fora do
pub, a lua já estava alta quando Jun sentiu-se seguro para perguntar o que
queria. Cuidadosamente, falou sobre Yuuki, e ao som deste nome, Ryo desandou a
falar sobre seu passado. Afinal, a bebida abrira sua boca.
Depois de deixar Ryo em casa –
este não estava em condições para dirigir –, Jun, ainda assustado seguiu para
sua própria casa. Ele ainda tentava digerir tudo o que Ryo lhe contara com a
voz embargada, quando deitou-se em sua cama macia, depois de tomar um banho quente
e comer arroz com furikake. Era tarde, e ele estava cansado, mas não conseguia
dormir pensando em Yuuki. Quando finalmente pegou no sono, o sol já estava
nascendo e logo foi acordado por seu despertador estridente.
Pensou nos pesadelos que tomaram
conta de seu curto período de sono e logo tratou de afastá-los de sua mente.
Jun planejava usar o que quer que Ryo lhe contasse para ajudá-lo a subir na
Johnny’s e perante os olhos de Yuuki, mas diante do conteúdo das revelações,
ele se perguntava se, algum dia, conseguiria falar nisso. Apesar de toda sua ambição, Jun não era de
todo ruim, e sabia também, que não faria com mulher nenhuma o que Ryo fizera
com Yuuki.
Não conseguia deixar de pensar
no que ele dissera, enquanto o carregava até o carro, na noite anterior. Sentia
que deveria protegê-la, de alguma maneira. Não podia permitir que Ryo fizesse
algo.
– Ela vai acabar comigo! – Ryo dissera, a voz embargada – Tenho que
arrumar um jeito de me livrar dela, de fazer com que ela perca a confiança do
Kitagawa-san.
Continua...