Capítulo 4 – Shizuka na Yoru ni
(Na Noite Silenciosa)
Na esperança de descobrir algo que pudesse usar contra Yuuki, Ryo havia
contratado um detetive. Uma semana inteira passara desde a estranha conversa
que tiveram, e o detetive ainda não havia conseguido nada. Ele não podia
esperar mais para agir, mas não conseguia pensar em nada.
Sentado no banco alto em frente ao balcão do bar onde costumava beber,
Ryo nem percebera que alguém havia se sentado ao seu lado, até que este
abanasse a mão em frente à cara do outro.
– Ah, gomen. – Ryo
desculpou-se, dirigindo-se a Jun, que já tinha um copo de cerveja em mãos.
Jun sabia que Ryo iria fazer algo contra Yuuki, e num impulso foi até o
bar tentar descobrir seus planos. Os dias que se passaram foram suficientes
para que Jun organizasse sua cabeça, mas ainda não conseguira falar com Yuuki.
Ele sabia que não conseguiria evitá-la por muito mais tempo.
– Daijobu. – Jun respondeu,
bebericando a cerveja.
– Né, foi você que me levou pra casa aquele dia?
– Hai... eu ficaria com a consciência pesada se te deixasse aqui. – Jun
não queria falar com ele. Sentia nojo, mas era pelo bem de Yuuki e,
consequentemente pelo bem de sua carreira.
– Arigatou. – Ryo tentava se
lembrar daquela noite, mas em sua mente, tudo não passava de um borrão. Ele
sabia que era fraco para bebida, mas insistia em se embebedar cada vez que
surgia um problema – Eu falei algo estranho?
– Acho que não, – Jun arqueou as sobrancelhas, como se estivesse
tentando se lembrar – só reclamou da escolha do Kitagawa-san para sua
sucessora... Como é o nome dela mesmo?
– Maeda Yuuki. – respondeu num impulso, a fala impregnada de ódio.
– É, isso mesmo. – ele estava chegando onde queria – Mas qual o problema
com ela? Até agora, me pareceu bem certinha...
– Nada demais... só não fui com a cara dela. – preferiu deixar seu
passado longe daquela conversa.
– Quero ver quando vazar para a imprensa essa história dela estar
assumindo a agência... – Jun disse inocentemente, rindo.
Ryo sentiu como se uma luz surgisse em sua cabeça. De fato, contar isso
para a imprensa seria uma boa maneira de enlouquecê-la e era a única coisa que
podia usar a seu favor agora. Talvez, ao ver a reação dela, Johnny Kitagawa
desistiria de sua escolha.
– Nishikido-san? – Jun chamou,
percebendo o repentino silêncio de Ryo.
– Ah, verdade! Como seria a
reação dela, né? – sorriu, virando o copo de cerveja como se fosse uma única
dose.
Jun despediu-se logo, antes que
Ryo ficasse completamente bêbado e tivesse que leva-lo para casa de novo. Não
havia conseguido descobrir os planos dele, e tampouco achava que conseguiria.
Kumiko convocara uma reunião do
grupo nas primeiras horas da manhã para passar agenda deles – reuniões desse
tipo ocorriam toda semana – e, como de costume, Jun se atrasara. Os outros
quatro e a manager já ocupavam seus lugares à mesa. Sho havia marcado a reunião
com Johnny Kitagawa para o mesmo dia.
– Como ele consegue se atrasar
sempre? – Sho reclamou, coçando os olhos.
– É o jeito MatsuJun de ser... –
Aiba sorriu, bebendo um grande gole de seu café – Falando nele, ele parece
melhor, né?
– Melhor? – Ohno bocejou
enquanto falava.
– Ele estava tomando remédios
durante os shows em Nagoya. Vocês não perceberam, né? – Aiba não estranhou que
só ele tivesse notado, afinal, Jun tomara cuidado para que ninguém percebesse
que não estava bem.
– Hum, não percebi... mas agora
que você falou, ele parecia mais cansado que o normal, ao fim do show. – Nino
observou, sem tirar os olhos do DS.
– E ele estava mais irritado
também. – Sho completou – Ele realmente odeia ficar doente.
– Quem odeia? – Jun falou, sentando-se à mesa. Entrara tão
silenciosamente, que só perceberam sua presença quando este falou. – Era só um
resfriado.
– Você estava ouvindo? – Aiba sentiu a face ruborizar. Sempre evitava falar
de Jun na frente dele.
– Só o que o Sho disse... mas deu pra perceber que era de mim que
estavam falando. – tirou os óculos e tomou um grande gole de água.
– Chega de papo! – Kumiko exclamou – Vamos às agendas. Sakurai-san... – ela começou a enumerar os
compromissos enquanto Sho acompanhava em seu celular.
Quase uma hora depois, com as agendas devidamente organizadas, Kumiko
deixou a sala, correndo para uma reunião com patrocinadores.
– Se nós não corrêssemos mais que ela, eu poderia dizer que sinto pena...
– Nino analisou – mas não. – abrindo o DS.
Jun cruzou as pernas, folheando
o script. As filmagens começariam em cinco semanas e como as locações de
gravação ficavam no interior, Jun sabia que mal teria tempo pra dormir. A
escritora do dorama era uma das melhores e mais exigentes e suas tramas sempre
conseguiam bons índices de audiência. O contrato já havia sido assinado e
agora, Jun tentava conhecer seu personagem para que pudesse desempenhá-lo com
maestria.
Seus olhos passavam lentamente
pelo papel, analisando cada nuance do personagem. Os outros quatro discutiam
sobre a reunião que aconteceria em breve com Johnny Kitagawa. Sho estava
começando a ficar nervoso.
– Eh? – Jun exclamou, sem tirar
os olhos do script, fazendo com que Sho desse um pulo de susto.
– O que foi, MatsuJun? – Sho
disse, se recuperando do susto.
– Essa maluca! – Jun urrou,
apontando para o papel em suas mãos – A reunião é daqui a pouco, né?
– Que reunião? – Aiba estava
atônito– Ah, com o Kitagawa-san? É sim!
– Vou na frente! Nos encontramos
lá. – Jun disse, deixando a sala, os quatro sem entender o que acontecera.
– Eu já disse que ele é
estranho? – Nino comentou, boquiaberto.
– Hoje ainda não. – Ohno
respondeu.
– Ele é estranho. – Nino
anunciou, sorrindo amarelo e voltando os olhos para o jogo em seguida. Os
outros caíram na gargalhada.
– Preciso falar com o Johnny-san. – Jun falou para a secretária,
ofegante. Correra todo o percurso até a sala do chefe.
– Só um momento. – ela disse,
pegando o telefone; murmurou algumas coisas e logo levantou, acompanhando-o até
a sala do chefe. Abriu a porta e deixou que ele entrasse, fechando-a em
seguida.
– Espero que não tenha nada a
ver com aquela história da outra vez... – Kitagawa falou, os olhos na tela do
computador.
– Não, senhor. – Jun disse,
estendendo o script – leia, por favor.
Johnny Kitagawa tomou o papel e,
abaixando os óculos até a ponta do nariz, pôs-se a ler.
– É do seu novo GETSU-9. – anunciou, devolvendo o papel.
– Senhor, leia até o final. –
Jun sentou-se na cadeira em frente à mesa polida enquanto o chefe retomava a
leitura.
Jun soube que ele havia chego à
parte que interessava quando o viu balançar a cabeça, a boca formando uma linha
fina e apreensiva.
– Ela não pode exigir que simule
um acidente de carro sem dublê! – ele disse finalmente, passando a mão nos
cabelos grisalhos – Há muitos riscos... você não tem experiência e nem mesmo
treinamento para isso!
– Senhor, o contrato já foi
assinado, não posso voltar atrás. – Jun informou, esperando que o chefe
encontrasse uma solução.
O telefone tocou estridente e a
secretária anunciou os outros membros do Arashi. A hora da reunião chegara.
– Mande entrar. – Kitagawa
falou, logo voltando sua atenção para Jun. – Matsumoto, irei contatá-la logo
após a reunião e lhe dou um retorno.
Jun seguiu-o até um jogo de
sofás disposto de modo a formar um quadrado. Johnny sentou-se numa poltrona e
Jun acomodou-se num sofá em sua frente. Logo os outros entraram e acomodaram-se
também. Enquanto Sho contava sua história, todos puderam ver os olhos do chefe
se arregalando e quando ele finalmente disse que se casaria, os olhos do chefe
pareciam querer saltar das órbitas.
Quando conseguiu se recompor,
perguntou se os outros abdicariam do casamento em favor de Sho. Diante à
concordância mutua, ele não tinha escolha senão aprovar o casamento. Pedindo
que aguardassem seu ok para anunciar publicamente, Johnny Kitagawa apertou a
mão de Sho e desejou-lhe felicidade com a nova família. Pediu também que não
perdesse o foco em sua carreira e que continuasse lutando pela união do Arashi.
A reação do chefe fora dentro do
esperado, e Sho não tinha mais o que temer. Um sorriso amarelo estava estampado
em sua face enquanto mandava um sms para Koharu, contando sobre a reunião. Logo
poderia ser feliz com ela e seu filho que estava por vir.
Jun ficou para trás, enquanto os
outros deixavam a sala parabenizando Sho.
– Matsumoto! – Johnny chamou –
Daqui a pouco te aviso sobre o GETSU-9.
– apontou para o próprio celular, e Jun pôde perceber que ele tentava engolir o
casamento de Sho ainda.
– Hai. – Jun tomou o próprio
celular em mãos, enquanto deixava a sala.
Ele realmente estava ansioso
para o dorama, afinal, era um GETSU-9.
Grande parte da equipe já era conhecida e trabalhara até mesmo com a escritora
maluca. O personagem era fascinante, e ele adorava encarar desafios de atuação,
mas o que a autora pedira era muito até para ele.
Entrou no Note Medalist resmungando sobre a demora no conserto do outro
carro. Durante todo o percurso até o estúdio do Arashi ni Shiyagare, manteve os olhos no celular.
Apagou o cigarro ao entrar no
estúdio, e enquanto a maquiadora terminava, sentiu o celular vibrar.
– Hai, Matsumoto desu.
–atendeu imediatamente, sem nem olhar o remetente.
– Matsumoto-san, Maeda deshita.
– Jun estranhou ao ouvir aquela voz.
– Hai? – foi a única coisa que conseguiu dizer.
– Meu... Kitagawa-san contatou
o assessor da Kazuma-san, a escritora
do dorama. Ela está no interior, incomunicável até o início das filmagens.
– Yuuki informou, seguindo as ordens do chefe.
– Mas... eu preciso resolver
isso urgente. – Jun reclamou, perguntando-se porque não fora o próprio Johnny
Kitagawa que ligara.
– Kitagawa-san sugeriu que você
fosse encontrá-la. O assessor dela deixou o endereço e não é muito longe de
Tóquio.
– Vou hoje mesmo. Preciso
convencê-la a deixar que eu use dublê, ou terei que começar a treinar de alguma
maneira. – Jun concluiu – Pode me passar o endereço?
– Kitagawa-san insistiu para
que um de seus assessores o acompanhasse.
– Certo. – Jun sabia que não
adiantava teimar quando eram ordens diretas do chefe – Que horas?
– Cinco minutos pra gravar! – um
staff passou por ele, anunciando.
– Seu último compromisso do dia é uma sessão de fotos às 15 horas, não é?
– Yuuki conferiu a agenda dele.
– Hai. – concordou.
– Então esteja aqui na agência às 18 horas. – disse, desligando antes
que Jun pudesse dizer qualquer coisa.
Jun largou o celular,
resmungando pela falta de educação dela e preparou-se, ao lado dos outros, para
a gravação.
A sessão de fotos terminou mais
cedo que o previsto, então Jun voltou para sua casa, tomou um demorado banho no
ofurô e separou uma muda de roupas,
caso precisasse pernoitar, colocando-as numa mochila de couro. Secou os cabelos
e dirigiu calmamente até a JE. Chegou exatamente às 18 horas, um tipo de
pontualidade anormal para ele.
Ao estacionar, percebeu uma
mulher caminhando em sua direção. Só conseguiu ver seu rosto quando estava a
poucos centímetros do carro.
– É bom que seja pontual. –
Yuuki falou, sorrindo. Já sabia da fama de falta de pontualidade dele.
– Cadê o tal assessor? – Jun
reclamou, sem sair do carro.
– Sou eu que vou com você. – era
visível que ela gostara da ideia tanto quanto ele – Johnny Kitagawa-san insistiu
para que eu fosse.
– Se não tenho outra opção... –
ele resmungou – Entra aí e vamos logo!
– Eu não coloco meus pés dentro
desse carro escandaloso de jeito nenhum! – fez cara de nojo.
– É por sua culpa que estou
tendo que usá-lo. – reclamou, deixando claro que também não gostava do carro.
– Desça logo daí e vamos! –
Yuuki impacientou-se, dando as costas para Jun e seguindo na frente.
Ele pegou a mochila,
pendurando-a sobre um dos ombros e apressou-se em segui-la.
– As chaves. – Jun esticou a mão,
esperando que ela entregasse.
– Meu carro sou eu quem dirige.
– entrou pela porta do motorista de um sedan prateado.
– Você não conhece a estrada. –
ele observou.
– Tenho GPS. – ela bateu
fraquinho sobre a tela do aparelho.
– Eu não confio em você!
Estragou toda a traseira do meu carro parado, imagina o que pode fazer numa
rodovia. – ele ainda estava do lado de fora quando Yuuki deu a partida.
– Você vai? – fechou sua porta –
Aquilo foi um acidente... eu nunca tinha batido em nada antes!
Jun abriu a porta do passageiro,
jogando sua mochila no banco de trás enquanto resmungava.
– Não tenho outra opção né? –
questionou, enquanto colocava o cinto de segurança.
– Não mesmo. – ela sorriu,
acelerando.
Jun colocou os fones nos
ouvidos, ligando a música em seu celular no volume máximo. Sentia seus ouvidos
irritados e sua cabeça ameaçava explodir, mas não queria falar com ela. Fechou
os olhos. Tampouco queria vê-la. Ela o irritava profundamente.
Passado algum tempo, ele estava
quase dormindo quando Yuuki o cutucou. Enquanto tirava os fones ouviu-a
murmurando algumas coisas em mandarim. Ele não falava, mas com certeza entendia
mandarim.
– Ei! – ela chamou novamente. O
céu estava totalmente escuro e a estrada era iluminada pelos faróis do carro.
– Nani? – Jun resmungou.
– Converse comigo! – ela
ordenou, sem tirar os olhos da estrada. Algumas gotas de chuva vinham de
encontro ao para-brisa.
– Porque eu deveria? – ele
colocava o fone novamente.
– Sinto muito sono quando dirijo
de noite. – falou baixinho. Realmente não queria ter que pedir isso a ele.
– Eu falei que era melhor eu
dirigir. – reclamou, de novo.
– Já disse que só eu dirijo meu
carro! – a chuva parecia estar aumentando.
– Não quero morrer. – Jun disse,
desligando a música e enrolando os fones.
– Estava tão alto que eu
conseguia ouvir. – Yuuki constatou, referindo-se aos fones.
– Então vamos ligar isso aqui,
agora. – Jun ligou o som do carro, e para sua completa perplexidade começou a
tocar sua música preferida dos “Beatles”.
– Você estava ouvindo essa agora
há pouco. – Yuuki sorriu, e Jun percebeu que era a primeira vez que a via
sorrir naturalmente.
Um relâmpago cortou o céu,
iluminando a estrada, e em seguida veio o estrondo do trovão que fez o carro
todo tremer. Jun pôde ver uma vaca atravessando a rodovia em disparada quando
Yuuki freou bruscamente, mas não rápido o suficiente para evitar a colisão.
Continua...