Capítulo 3
– Mada Minu Sekai e (Para um mundo que ainda não vimos)
Os primeiros passos dentro de um
mundo diferente confundem a cabeça de qualquer um.
Durante toda a semana que se
seguiu, Jun esforçou-se em suas tarefas normais, perguntando-se se não seria
melhor que não tivesse descoberto o segredo de Ryo e Yuuki. Evitava dirigir-se
a ela agora, temendo dizer algo desnecessário.
Yuuki estranhou ao ver que Jun
desistira tão facilmente de agradá-la e chamava o Arashi para reuniões diárias
como desculpa para vê-lo e desvendar seu tão inesperado silêncio. Talvez
tivesse o julgado errado.
Enquanto seu melhor carro estava
no conserto, Jun usava um indiscreto carro dourado que ganhara da Nissan. As vendas daquele modelo foram
maiores do que o esperado e eles acreditavam que era por Jun ter aparecido no
CM, por isso, o presentearam com aquele modelo.
Por sorte, não encontrou mais
Ryo pelos corredores. Ele estava gravando um novo dorama e passava pouco tempo
na agência. Tinha medo de que ele tocasse naquele assunto.
Sho dirigia até a JE, as juntas
brancas do dedos saltando sobre o volante. Estava tenso e não conseguia nem
disfarçar. Tinha medo da reação dos quatro, e ainda mais medo da reação do
chefe.
Certamente, Maeda-san seria mais flexível que Johnny Kitagawa,
mas não podia esperar até que ele se aposentasse. Não podia mais adiar essa
decisão. Cometera um deslize e tinha que lidar com isso, mesmo que fosse
difícil para o restante do grupo.
Enquanto esperava o elevador,
afundou as mãos nos bolsos das calças e enterrou sua cabeça no cachecol,
escondendo a boca e parte de suas bochechas rechonchudas.
Chegara cedo e a sala estava
vazia, então sentou-se, colocando os fones nos ouvidos. Ligou uma música
qualquer. Não estava de fato ouvindo, só tentando relaxar.
Nino chegou em seguida, os olhos
ainda inchados de sono. Tirou o DS do bolso e pôs-se a jogar, praticamente
ignorando a presença de Sho ali. Era muito cedo para que Nino conseguisse puxar
assunto e preferiu não desconcentrar Sho.
Ohno, com sua eterna cara de
sono sentou-se ao lado de Nino, e depois de alguns minutos observando-o jogar,
na esperança de que ele largasse o game lhe desse alguma atenção, desistiu.
Abriu uma revista de pesca.
Aiba entrou na sala
cantarolando. Trazia em mãos um saco de papel do qual tirou cinco cheeseburguers e distribuiu, sorrindo.
–Trouxe café da manhã, Aiba-chan? – Sho riu, tentando esconder sua
tensão.
– Eu estava com fome, então
acabei trazendo para todos. – Aiba
abocanhou um grande pedaço de seu cheeseburguer.
– Vou buscar algo para bebermos,
– Ohno levantou-se – já que o MatsuJun está atrasado mesmo.
– Arigatou Aiba-chan, Oh-chan. – Nino sorriu amarelo, feliz por não pagar pelo café da
manhã.
Assim que Ohno deixou a sala,
Jun entrou e sentou-se diretamente em frente à Sho. Murmurou um “ohayou” e pôs-se a ler o script de seu novo dorama. Não podia
exigir pontualidade de ninguém quando era ele quem sempre se atrasava.
Aiba empurrou um cheeseburguer para ele, deslizando sobre
a mesa polida.
– Tomei café em casa. – Jun
resmungou, empurrando na direção de Nino – Nino, pode comer.
– Arigatou gosaimasu! – Nino exclamou enquanto desembalava o segundo cheeseburguer – O Riida está demorando... minha garganta tá seca.
– Além de ganhar o café da
manhã, fica reclamando da demora... – Jun murmurou baixinho, sabendo que os
outros ouviriam.
– Vai começar... – Nino disse,
abrindo o game novamente.
Sho estava ensaiando seu
discurso mentalmente e nem ouviu a reclamação de Jun. Só quando Ohno colocou um
copo de isopor na sua frente, foi que percebeu que estavam todos ali.
– Latte para o Sho-kun, –
Ohno disse, enquanto entregava os copos, tirando-os do suporte de plástico – Macchiato pro Aiba-chan, Soda gelada para o Kazu, café
preto pra mim e Capucchino descafeinado
e sem açúcar para o MatsuJun.
– Arigatou. – os quatro exclamaram em coro. Jun não poderia recusar o
café.
– E aí, Sho-kun, qual o motivo da reunião? – Nino não conseguiu mais se conter.
Sho bebeu um grande gole de seu
café, queimando a língua com o líquido quente.
– Faz algum tempo que quero
falar, mas não consegui reunir coragem e agora não posso mais esconder. – Sho começou, chamando a atenção de todos.
Ohno largou a revista de pesca e Nino fechou o DS.
– Desenrola! – Jun exclamou,
perante a longa pausa que Sho fez.
– Eu vou me casar. – Sho disse
num fôlego só.
– Êeeeeeeeeeeeeeeeeh? – os
quatro disseram em uníssono, assustados.
– Que história é essa, Sakurai?
– Jun não se conteve, alterando o tom de voz.
– Eu sei que só um de nós poderá
se casar... Gomenasai! A Koharu-chan está esperando um filho meu. – Sho
choramingou, esfregando as mãos nervosamente – E agora com a Maeda-san no comando, suponho que essa regra
de um único casamento por grupo seja extinta.
– Você supõe né? Mas e se não
for? Vamos ter que passar o resto de nossas vidas sem firmar compromisso com
ninguém? – Jun reclamou, ainda assustado com Sho.
– Hontou ni gomenasai, minna, mas eu não tenho outra opção. Não posso
deixá-la desamparada. – Sho limpou uma lágrima que escorria por sua face.
– Sho-kun, – Ohno começou, esticando-se para segurar a mão do amigo – por
mim tudo bem. Eu acredito que a Maeda-san
vá mudar algumas coisas por aqui.
– Estou com o Riida. – Nino lançou um olhar de
desaprovação para Jun, voltando-se para Sho em seguida.
– Hum, eu também. – Aiba sorriu,
mas logo sua expressão se transformou em confusão – Ano... Sho-kun, quem é Koharu-chan?
Os quatro lançaram-se numa
conversa sobre a namorada – futura esposa – de Sho, enquanto Jun analisava a
situação. Ele tinha medo de não poder casar-se, mas não tinha fundamento sua
preocupação quando ele nem mesmo tinha uma namorada e nunca tivera nenhum tipo
de relacionamento sério.
– Se sou a minoria, – Jun falou
mais alto, interrompendo a conversa dos outros – não tenho outra opção senão
concordar, mesmo que a contragosto.
– Arigatou minna! Eu sabia que podia contar com vocês! Jamais me
deixariam em apuros... – Sho sorriu, ainda se sentindo mal pelos outros.
– Mas agora você precisa falar
com o Johnny Kitagawa-san. – Jun
continuou, vendo a expressão de Sho ficar tensa novamente.
– Vamos todos juntos. – Ohno
disse, olhando para Jun – Ele precisa saber que o grupo aprova isso.
– Tudo bem, eu vou! Mas se eu
arrumar uma namorada, um dia, e não puder me casar – Jun falou em tom de brincadeira,
mas sua expressão era séria – vou atormentá-los o resto de minha vida!
– Arigatou gosaimashita! – Sho curvou-se. Ele realmente esperava pela
compreensão do resto do grupo – Vou marcar uma reunião com o chefe e os aviso
em seguida.
– Estou saindo. – Jun
levantou-se e deixou a sala, levando o café consigo.
Viu Yuuki mais à frente no
corredor, e automaticamente diminuiu o passo, de modo que não precisasse pegar
o elevador com ela. Ela parou, esperando pelo elevador e Jun percebeu que não
teria como evitar, a menos que fosse pelas escadas, mas ficaria muito visível
que ele estava a evitando.
Os dois entraram no elevador e
Jun olhou para o teto, bebericando seu café. O clima pesado pelo silêncio.
– Já arrumou o carro? – Yuuki
corajosamente quebrou o silêncio, ainda estranhando a curiosa atitude de Jun.
– Ainda está no conserto. – ele
respondeu sem tirar os olhos do teto.
Yuuki esperou que ele
continuasse falando. Diante o silencio dele,
ela começou a batucar com as unhas, impaciente.
– Escuta... – ela começou, em
seguida, as portas do elevador se abriram e ela calou-se.
– O que? – Jun bebericou seu
café calmamente.
– Nandemonai. – deu-lhe as costas, deixando o elevador à passos
rápidos.
Jun ainda não conseguia
encará-la. Tinha medo de olhá-la nos olhos.
Logo Ryo terminaria seu dorama e possivelmente começaria a atormentá-la.
Algo dentro de Jun dizia que ele deveria ajudá-la, mas ele ainda não sabia como
lidar com isso. Não sabia se deveria ajudá-la. Nem mesmo se lembrava de seu
propósito de crescer dentro da Johnny’s,
tamanha era a confusão em sua mente.
Ele tampouco conseguia pensar na reação das fãs ao saber que Sho iria se
casar e ser pai. O Arashi estava entrando em uma nova fase, em um mundo que ainda
não havia sido visto.
Continua...
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