Capítulo 8
– Okaasan, por que você está
assim? – Harumi vinha do quarto, vestindo pijamas e intrigada com a mãe, que
estivera chorando desde que chegara.
– Não é nada, meu anjo. – Eloise
limpou o rosto e estendeu os braços para Harumi – Fica aqui com a mamãe,
Haru.
Harumi deitou-se ao lado de
Eloise no sofá e pôs-se a acariciar o rosto da mãe, logo adormecendo, naquele
sono leve e despreocupado que só as crianças têm.
A televisão ligada iluminava a
sala, mas Eloise tinha os olhos fixos na estante com portas de vidro onde
guardava suas coisas do Arashi (alguns singles, álbuns, DVDs, pôsteres,
revistas e goods), totalmente mergulhada nas lembranças do que acontecera mais
cedo.
Flashback on
Quando estavam
colocando as bicicletas no lugar, ouviram uma música tocando baixinho. O rosto
de Eloise ruborizou imediatamente, enquanto tirava o celular do bolso, e eles
não puderam deixar de perceber que a música que estava tocando era Movin’on do
álbum Boku no Miteru Fuukei de 2010.
Desastrada, deixou que seu
celular caísse, e todos notaram que a foto da tela era, indubitavelmente, Jun
sem camisa, mostrando os braços torneados. Tremendo loucamente, Eloise se
abaixou para pegar o celular, os olhos deixando que algumas lágrimas
escorressem. Apertou o botão vermelho que silenciou o celular, guardando-o no
bolso. Ela se sentou no chão e olhou para os pés, nitidamente envergonhada.
– Acho que vocês perderam... –
Nino murmurou para Aiba, Sho e Ohno com um sorrisinho.
– Ise-chan, está tudo bem! – Jun
falou, tentando acalmar Eloise que soluçava, ainda sentada no chão – Nós já
sabíamos...
– Mas vocês não deveriam
saber... – Eloise murmurou, sem se atrever a olhar pra eles.
– Se acalme... não há nada de
errado em você ser nossa fã! – Jun ajoelhou-se ao lado dela e levou seus braços
até ela, para envolvê-la, mas baixou-os em seguida.
Eloise, percebendo a proximidade
em que Jun se encontrava dela, levantou-se de um salto e pôs-se a correr em
direção à saída, consciente de que se quisesse ir caminhando, teria que andar
vários quilômetros.
Assim que Jun se deu conta de
que ela fugira, levantou-se e seguiu-a.
– Eroise-chan, pare com isso!
Volte aqui e vamos conversar... – Jun gritou, ofegante, enquanto a seguia.
Perturbada com tudo que
acontecera e com os olhos embaçados pelas lágrimas que os enchiam, Eloise não
percebeu uma pequena irregularidade no chão, pisou em falso, perdendo o
equilíbrio e caindo.
– Está tudo bem? – Jun perguntou
assim que a alcançou, ofegante. Eloise havia se sentado e massageava o tornozelo
direito, fazendo algumas caretas de dor. – Posso ver? – Jun sentou-se no chão
ao lado dela e, sem nem mesmo esperar pela resposta, apoiou a perna dela sobre
a sua, tirou o tênis dela e pôs-se a apalpar o tornozelo.
– Ai! Pare com isso! – Eloise protestou,
tentando não demonstrar a dor que estava sentindo e incomodada com o fato de
seu tornozelo estar sendo massageado por seu ichiban. Ela puxou a perna, mas
Jun a mantinha firmemente apoiada. – Ah, eu não acredito nisso!
– Ei, se acalme e pare quietinha,
onegai. Estou só olhando... Não vou abusar do seu pé, nem nada! – Jun fez
graça.
Vendo que não havia outra saída,
Eloise relaxou e deixou que ele “olhasse” seu tornozelo.
– Foi uma torção leve... vai
ficar bom logo. – Jun falou, ainda segurando a perna – Só Deus sabe quantas
vezes torci o meu ensaiando...
– Então eu vou indo... – Eloise
fez menção de se levantar, mas foi impedida por Jun.
– Mas eu acho que você não
deveria forçá-lo, por enquanto. – Jun completou, vendo a irritação estampada no
rosto de Eloise. Ele se levantou, entregando o tênis pra Eloise. – Vou
carregá-la...
– Não vai mesmo! – Eloise
protestou, mas Jun já havia passado um dos braços sob suas pernas e o outro já
apoiava suas costas. – Eu não acredito nisso! – Eloise reclamou – Porque você
está fazendo isso?
– Porque você está machucada. –
Jun sorriu, como se estivesse se divertindo com a situação em que se
encontravam. O rosto de Eloise estava muito próximo do dele, seus corpos se
tocando quase inteiramente.
Depois de alguns minutos de
caminhada, chegaram a um ponto de parada de ônibus, onde Jun sentou-a
cuidadosamente sobre o banco.
– Quer saber como foi que eu
soube que você era uma fã? – Jun perguntou, sentando-se ao lado dela, que
balançou a cabeça afirmativamente. – Eu te dei um autógrafo no aeroporto.
– Achei que não fosse se lembrar
de mim! – Eloise murmurou, sua face ruborizando novamente.
– Assim que vi você no Parque, me
lembrei do brilho de seus olhos... e das marcas nas palmas de suas mãos. – Jun
pegou uma das mãos dela e abriu-a sobre a sua, deixando à mostra as marcas.
– São minhas unhas. – Eloise
começou, sorrindo. – Eu mantenho as mãos fechadas em punho, e as unhas são
longas... aí fica assim. Mas não dói. É uma maneira de eu me controlar... – Ela
decidiu que mentir agora, já não era necessário.
– Entendo... – Jun falou, ainda
olhando para as mãos dela – Você é nossa fã há quantos anos?
– Quase 10... – Eloise sorriu,
lembrando-se de todos os momentos em que o Arashi a alegrara, em que estivera
presente em sua vida e pensando que aquela situação que estava vivendo não
poderia ser real.
– Nossa, faz muito tempo! – Jun
falou, olhando um quati que andava do outro lado da rua.
Aproveitando a distração de Jun,
Eloise mexeu o tornozelo e constatou que este quase não doía mais, colocou o pé
no chão, sentindo uma dor leve, que poderia ignorar facilmente.
– Já estou melhor... acho que
posso ir andando. – Eloise levantou-se, sobressaltando Jun – É melhor você
voltar para o hotel antes que escureça. Amanhã o dia será longo.
E mancando um pouquinho, Eloise
deu as costas para Jun, seguindo até a saída, sem olhar pra trás.
Flashback off
~~
Assim que Jun e Eloise saíram
correndo, Aiba, Ohno, Nino e Sho voltaram para o hotel, e depois de tomarem
banhos demorados, se sentaram confortavelmente para discutir o que acontecera.
– Será que o Jun vai demorar
muito? – Nino reclamou.
– Acho que sim... – Sho falou,
sorrindo. – Não sei se também perceberam, mas ele parece bastante interessado
na Eroise-chan.
– Verdade! Eu também percebi...
– Aiba concordou, empolgado – Desde a Mao-chan eu não o via assim...
– Se apaixonar por uma
brasileira... acho que não é bom! – Ohno analisou – Imagine ter meio mundo te
separando de seu amor...
Ohno interrompeu-se
imediatamente quando viu Jun entrando no quarto. Jun passou por eles murmurando
um “Vou tomar banho e já venho” e foi direto para o banheiro. Cerca de 20
minutos depois, ele saiu do banheiro, levemente molhado, a parte inferior de
seu corpo coberta por uma toalha. Vestiu-se rapidamente e juntou-se a eles,
sentando entre Sho e Aiba e cruzando as pernas.
– Como foi? – Ohno, muito
curioso, perguntou.
Jun contou-lhes tudo o que
acontecera, com os olhos brilhando e um sorriso no rosto, especialmente quando se
lembrou do momento em que a carregara no colo, quando seus corpos se tocavam.
– Jun-pon, você está apaixonado
por ela, né? – Aiba perguntou, assim que Jun terminou de contar.
– Não tenho certeza ainda, mas
tem algo muito grande se manifestando aqui. – Jun colocou uma das mãos sobre o
coração.
– Mas pelo que você nos contou,
ela não quer nada com você. – Sho falou. – Ela é só uma fã, Jun-kun.
– E você nem deve ser o ichiban
dela... – Nino falou, botando lenha na fogueira.
– Kazu, eu acho que ele é sim...
– Aiba lembrou – A foto no celular dela era visivelmente o Matsujun.
– Você tem razão, Aiba-chan. –
Nino reclamou, desanimado, pegando o DS que estava sobre a mesa.
– Não sei no que vai dar isso,
mas eu realmente espero não me machucar. – Jun falou, lembrando-se da maneira
com que terminara todos os namoros ou rolos que já tivera.
– Mulheres podem ser cruéis... –
Nino murmurou, enquanto jogava.
– Por isso, Kazu, que você
namora seu DS? – Sho caçoou de Nino.
– Cale a boca, Sakurai! – Nino
largou o DS novamente, lembrando-se de um novo assunto a ser discutido – E
agora, Jun-pon, que nós ganhamos a aposta, qual deveria ser o mico deles?
– Tem que ser algo muito
vergonhoso! – Jun falou, já pensando em algo – Ah sim, eu trouxe algumas
pijamas, como aqueles do primeiro acampamento.
– Perfeito! – Nino exclamou –
Perfeito... para um mergulho na piscina do hotel!
– AAH não! – Sho reclamou.
– Fique quieto, Sho-chan, se não
vai ser bungee jump de pijamas! – Nino falou, lembrando-se da plataforma de
salto que haviam visto há alguns dias.
– Calei! – Sho falou.
– Acho legal eles nadarem com os
pijamas na piscina do hotel, – disse Jun, analisando mentalmente se havia
trazido pijamas suficientes – mas tem que ser de noite e com a Ise-chan
presente!
– Ok, não foi tai ruim quanto eu
imaginava que seria! – Aiba aceitou, sorrindo.
– Mas Jun-kun, por que mesmo que
você trouxe os pijamas? – Ohno indagou, tomado pela curiosidade.
– Achei que poderiam ser
úteis... e acertei! – Jun riu alto, acompanhado por Nino.
~~
Eloise acabou por adormecer no
sofá com Harumi, acordando quando o dia começava a clarear para levar sua filha
para a cama. Desperta, mesmo tendo cerca de 2 horas ainda pra dormir, Eloise
pôs-se a olhar algumas fotos antigas, vez ou outra passando por fotos dela com
Kenji.
Seus olhos enchiam-se de
lágrimas ao vê-lo, o coração batia forte e as lembranças dos dias felizes que
haviam vivido juntos vieram à tona.
Kenji era atencioso, amoroso,
carinhoso, um ótimo namorado, mas Eloise temia que ele descobrisse sobre
Harumi, por isso nunca, nesses quase cinco anos, falara com ele.
Num impulso, ela pegou o celular
e discou o número de Kenji, que ainda sabia. Seu coração disparou enquanto
ouvia chamar.
– Alô? Alô? – Após 3 toques,
Kenji atendeu. Eloise ouviu sua voz sem nem mesmo respirar, seus olhos se
encheram de lágrimas e quando ela percebeu que não iria mais aguentar,
desligou.
Era a primeira vez que ela ouvia
a voz dele em cinco anos, mas a força que aquela voz exercia sobre ela ainda
era a mesma. Deixou que as lágrimas escorressem por sua face, enquanto se lembrava
de tudo que havia vivido com ele e logo adormeceu novamente.
Continua...