Capítulo 29
–
Espera, cadê a Ise-chan? – Ohno percebeu que ela estava demorando demais.
Jéssika
foi até a cozinha e voltou com um bilhete em mãos.
–
Aqui diz que ela foi buscar o pai da Haru no aeroporto e volta logo. –
explicou, sabendo que era a única que entenderia o que estava escrito.
–
Bom, se não há aniversariante, não há festa. – Sho reclamou, levantando-se.
–
Vamos indo então. – Ohno disse, ajudando Nino a levantar-se.
Os
três aproximaram-se de Jéssika, mas esta os afastou, sorrindo largo.
–
Despedidas só amanhã, ok? – ela disse, apertando a cintura de Aiba.
–
Você vai no aeroporto? – Nino perguntou.
–Definitivamente,
eu vou! – sorriu.
–Tudo
bem então! Vamos indo Masaki? – Ohno chamou.
–
Vou ficar mais um pouco, pra ajudar a arrumar essa bagunça toda. – Aiba
respondeu.
Todos
se aproximaram de uma Harumi que ressonava calmamente no sofá e afagaram-lhe
carinhosamente o topo da cabeça, saindo em seguida, Nino murmurando um “jya ne” e puxando a porta atrás de si.
–
Vamos arrumar isso logo e ir para o meu apartamento. – Jéssika falou, juntando
os copos e levando-os até a cozinha – Você sabe lavar louça?
–
Claro que sei! – Aiba sorriu –Não é porque sou ruim na cozinha que também não
vou saber lavar louça. Já ajudei muito no Keikarou.
Com a louça claro!
~~
Eloise
estacionou o carro e correu até o saguão do aeroporto, onde Kenji estava
sentado, mexendo no celular, esperando-a calmamente. Aproximou-se dele
silenciosamente e tapou-lhe os olhos delicadamente.
–
Veio rápido. – ele sorriu – Mas pareceu uma eternidade!
–
Eu corri assim que ligou.
–
Cadê a pequena? – ele olhou para ela, perguntando-se se a filha poderia ter
ficado no carro.
–
Com a Jéssika. – sorriu.
–
Vem cá. – ele puxou-a para perto de si e colou seus lábios nos dela, que
correspondeu imediatamente – Estive esperando por isso o dia todo.
–
Devo admitir que eu também. – lembrou-se dos lábios sujos de glacê de Jun,
enquanto comiam o bolo que fizeram, mais cedo.
–
Esse colar lhe caiu muito bem, exatamente como eu imaginava. – ele pegou o
pingente com delicadeza.
–
Eu adorei, muito obrigada pelo presente. – ela pensou em todos os presentes que
a vida havia lhe dado nos últimos dias – Vamos logo para casa!
Ela
puxou-o pelas mãos, tentando expulsar todos os pensamentos inúteis de sua
cabeça.
Durante
o caminho, Kenji percebeu que ela estava longe, apesar de um largo sorriso
estar estampado em sua face, o cenho franzido indicava que estava travando uma
batalha dentro de si.
–
Acho que deveria ir. – Kenji disse, simplesmente, enquanto desciam do carro.
–
Onde? Hã? – Eloise percebeu que estivera em silêncio durante todo o percurso.
–
Amanhã, despedir-se deles. – respondeu, como se estivesse lendo os pensamentos
confusos dela.
–
Não vou, eu já decidi. – forçou um sorriso em sua face, esperando estar
demonstrando satisfação com sua decisão.
–
Vai se lamentar a vida toda se não for. – analisou.
–
Não vou! – insistiu.
–Tudo
bem, você é quem sabe, mas deveria ir. – ele esperou que ela abrisse a porta do
apartamento.
Deixou
sua mala num canto da sala, enquanto Eloise ia até o quarto de Harumi.
–
A Jéssika levou a Haru para a casa dela. – constatou, trazendo o bilhete que a
amiga deixara. Quando virou-o para que Kenji visse, percebeu que Jéssika havia
usado o verso do bilhete que ela mesma deixara ao sair.
Notou
que a casa estava limpa, a louça lavada e lembrou-se mentalmente de agradecer à
amiga quando a visse.
–
Quer tomar um banho? – ela perguntou, pensando em quão cansado ele estaria –
Posso fazer um chá para nós enquanto isso.
Ela
levou-o até o banheiro e ele puxou a porta atrás de si, deixando-a entreaberta.
Eloise encheu a chaleira, colocou-a sobre o fogão e permaneceu alguns segundos
analisando as chamas azuis.
Num
impulso, foi até seu quarto, arrancou suas roupas e soltou os cabelos, que
caíram em cascata, cobrindo seus seios. Abriu a porta do banheiro e entrou
sutilmente. Quando abriu o box e entrou, percebeu que ele não conseguia conter
sua surpresa ao vê-la ali.
–
Os anos foram gentis com você. – ele sussurrou, puxando-a para baixo da água
junto à ele – Está ainda mais bonita.
–
E você está malhando! – sorriu, passando as mãos em seu abdômen definido.
Ele
puxou-a para mais perto de si e beijou-a suavemente, sem ardor, sem aquele
desejo louco que sentiam um pelo outro anos antes. Era algo mais nobre, algo
mais duradouro. Era amor.
Ao
saírem do banho, vestiram seus pijamas e tomaram o chá. Dormiram abraçados,
como se fossem um só.
~~
Jun
percebeu que o sol já estava nascendo e que não pregara os olhos nem por um
segundo, pensando se conseguiria despedir-se de Eloise. No dia anterior, decidira
que iria entregar-lhe uma carta, então mesmo se ela não fosse, poderia pedir
para que Jéssika entregasse.
Encarou
a carta, pensando se realmente havia escrito tudo. Era difícil pensar que em
tão pouco tempo, sua vida mudara tanto, mas mesmo assim, não mudara nada.
Ele
olhou pela janela, o céu pintado de azul, rosa e amarelo, o sol surgindo
lentamente na linha do horizonte. Sentiria falta dali. Sentiria falta dela.
~~
Já
eram quase 8h da manhã quando Jéssika, com sua
incrível sutileza, invadiu o quarto de Eloise, exigindo que ela levantasse.
Kenji levantara há pouco e estava no banho.
–
Eu não vou! – Eloise disse, cobrindo a cabeça com o travesseiro.
–
Como assim não vai? – Jéssika arrancou o edredom da cama.
–
Não posso ir, não vou aguentar! – olhou suplicante para a amiga.
–
Tudo bem, mas depois não diga que não tentei. – desistiu, largando os braços ao
lado do corpo.
–
Diga que foi incrível estar com eles. – Eloise virou-se para a janela,
observando o sol que invadia o quarto.
–
Caso mude de ideia, o voo deles sai às 10h. – disse, saindo do quarto – Tem
certeza que não quer que eu diga nada ao Jun?
–
Absoluta, o recado é para todos.
–Tudo
bem, espero que não passe a vida toda lamentando-se por isso...
–
EU NÃO VOU! – ela gritou, como se assim, pudesse reafirmar sua decisão.
–
A Haru está vindo. – Jéssika avisou, mantendo a porta aberta para que a pequena
passasse e fechando-a atrás de si.
Harumi
correu até Eloise, jogando-se na cama. Abraçou e beijou a mãe, sabendo que
havia algo errado com ela.
Ao
sair do banho, Kenji deparou-se com Harumi abraçada à mãe, que tinha os olhos
avermelhados.
–Oi,
tio Kenji! – Harumi cumprimentou-o, sorrindo, envolta pelos braços da mãe.
–
Olá, pequena. –Kenji correu até a cama e abraçou às duas – Vamos fazer café
enquanto a mamãe toma banho?
–
Vamos! – ela seguiu Kenji até a cozinha.
Eloise
levantou-se e foi até o banheiro, deixou a água do chuveiro escorrer por alguns
segundos e enfiou a cabeça sob ela, sem nem mesmo despir-se. Deixou que suas
lágrimas se misturassem à água gelada e só voltou à realidade quando ouviu duas
batidas leves na porta.
–
Está tudo bem? – Kenji perguntou.
–
Sim, sim, estou saindo. – respondeu, desligando o chuveiro.
–
O café está na mesa, venha logo.
Vestiu-se,
torcendo para que a vermelhidão em seus olhos já tivesse desaparecido por
completo quando chegasse à cozinha. Lá, viu seu amor e sua pequena conversando
como se fossem velhos amigos e novamente sentiu vontade de chorar, mas não
deixou que as lágrimas escorressem, ela queria
ser forte.
–
Elô? Elô? – Kenji observava Eloise paralisada, as mãos cheias de espuma e um
prato na mão.
–
Oi? – ela respondeu, abandonando seus pensamentos.
–
Seque suas mãos! Eu não suporto isso! –Kenji reclamou, entregando-lhe o pano de
prato.
–
Isso o quê? – pensou, secando as mãos.
–Vamos
logo! – puxou-a, chamando Harumi.
Pegou
a bolsa dela, sua carteira e as chaves do carro.
–
Eu dirijo. – abriu a porta do carona para Eloise, que parecia não entender
muito bem onde ele queria chegar.
Kenji
sentou Harumi na cadeirinha e afivelou o cinto de segurança. Somente quando
saíam da garagem, Eloise entendeu o que ele estava fazendo.
–
Por quê? – ela questionou – Por que está fazendo isso?
–
Porque eu não vou conseguir viver vendo você sofrer. Você vai se culpar a vida
toda se não for. Eu não posso viver vendo-a sofrer!
Eloise
não conseguiu responder, as lágrimas escorriam torrencialmente por sua face. Kenji
acelerou, torcendo para que conseguissem chegar a tempo.
–
Porque a okaasan tá chorando? – Harumi perguntou baixinho, depois de algum
tempo.
–
Ela só está triste, mas vai ficar tudo bem. – Kenji respondeu.
~~
Aiba
chegou ao hotel quando o dia estava quase amanhecendo, logo todos acordaram e
puseram-se a arrumar as malas. Era visível que Jun não havia dormido, as
olheiras ocupavam o espaço sob seus olhos, como se fossem permanentes.
Às
8h30 saíram do Hotel e se encontraram com o chefe somente no aeroporto. Uma
parte da staff havia voltado antes, logo depois das filmagens. Johnny Kitagawa
sentara-se em uma das poltronas do saguão e estava imerso em um livro. Os cinco
sentaram-se próximos ao chefe e logo Jéssika chegou. Jun suspirou alto quando viu
que ela vinha sozinha. No fim, não iria poder se despedir de Eloise. Talvez seja melhor assim, pensou.
Aiba
e Jéssika permaneceram abraçados até minutos antes da partida. Beijaram-se
demoradamente, Jéssika e Aiba, quando a primeira chamada para o embarque ecoou
no saguão. Jéssika abraçou a todos, em seguida curvou-se e agradeceu por tudo. Ainda
havia uma pequena chama de esperança tremulando no coração de Jun.
–
A Ise-chan – Jéssika falou, concluindo que a amiga realmente não viria – pediu
que eu agradecesse por todos os momentos incríveis que ela pôde compartilhar
com vocês. Arigatou gozaimashita.
Sho,
Nino e Ohno seguiram na frente, o segundo chamado ecoando. Aiba novamente
beijou Jéssika e correu atrás dos outros. Jun, sentindo que ela realmente não
viria, esticou sua carta para Jéssika.
Continua...
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