Capítulo 32
–
O que você vai fazer? – Aiba assustou-se.
Jun
o deixara na sala, correndo até seu quarto, e quando Aiba deu-se conta que
estava sozinho, foi atrás do amigo. Este estava com seu celular nas mãos,
discando rapidamente.
–
O que vai fazer? – repetiu, enquanto Jun colocava o telefone no ouvido.
Jun
ignorou-o, esperando ser atendido.
–
Quando sai o próximo voo para o Brasil? – ele perguntou à atendente da
companhia aérea enquanto puxava uma pequena mala de seu guarda roupas e a
colocava sobre a cama.
Enquanto
resolvia todos os detalhes da viagem, Jun corria de um lado para o outro do
quarto, colocando suas roupas dentro da mala, Aiba encostado ao marco da porta,
observando-o sem saber o que fazer.
Quando
o amigo finalmente jogou o celular sobre a cama e puxou o zíper da mala, Aiba
sentou-se aos pés da cama, olhando-o curiosamente.
–
Tem certeza que deve ir? – perguntou.
–
A mais absoluta certeza. – sentou-se ao lado de Aiba – Elas precisam de mim...
Mesmo que não saibam disso.
–
Quando sai seu voo?
–
Em 6 horas e meia. Dá tempo de avisar ao chefe. – Jun pensou novamente sobre
sua decisão, e concluiu que estava fazendo o melhor indo até lá – Ele não vai
criar problemas.
–
E o visto? – Aiba lembrou.
–
Obrigada por lembrar! Com um telefonema resolvo isso. – Jun novamente pegou o
celular, discando o número de um ex-colega de classe seu que trabalhava no
consulado.
Aiba
afastou-se de Jun e foi até a janela do quarto do amigo, surpreso com a bela
vista: a torre de Tóquio destacava-se de tudo ao seu redor, e, mais perto,
cerejeiras esbranquiçadas mostravam sua beleza, iluminadas pelas luzes da
cidade.
–
Tudo certo. – Jun declarou, deitando-se na cama e chamando a atenção do amigo.
– Eu sabia que podia contar com ele.
–
O que vai fazer? – Aiba perguntou novamente.
–
Vou trazê-las comigo. – Jun sorriu, mostrando que já havia arquitetado todo um
plano.
–
E se elas não quiserem vir?
–
Elas vão querer! – Jun respondeu, obsevando o primeiro raio de sol surgindo por
entre os prédios – E isso me lembra que tenho que falar com o Sho-chan. Chame
os outros.
–
Mas o dia nem amanheceu ainda! – Aiba protestou.
–
Não importa, preciso de todos vocês.
Jun
saiu do quarto com o celular em mãos. Parece
que ele não vai sossegar até partir, Aiba pensou, discando o número de Ohno
em seu próprio celular.
Logo,
os cinco estavam reunidos na sala de Jun. Sho, Ohno e Nino, confusos e
sonolentos. Nenhum deles sabia o motivo de ter sido chamado àquela hora da
madrugada, mas à menção do nome de Eloise, até mesmo Nino veio de boa vontade.
Os
quatro sentaram-se lado a lado e Jun em frente a eles não pestanejou em contar
o que acontecera com Kenji. Cada um deles reagiu em diferentes níveis de
choque, mas Jun não esperou que se recompusessem, logo contando seus planos.
–
Sho-chan, ela formou-se em jornalismo no fim do ano passado, é fluente em
quatro idiomas e também é formada em turismo. Acha que consegue algo para ela
no NEWS ZERO? – Jun disse rapidamente, esperando que Sho entendesse e pudesse
lhe ajudar.
–
Olha, parece que precisam de alguém para a redação/tradução... Meio que uma faz
tudo. Posso conversar com o chefe! – Sho lembrou-se de que ouvira sobre a
dificuldade que enfrentavam para encontrar alguém para aquele cargo.
–
Perfeito! Acha que consegue confirmar isso antes que eu chegue ao Brasil? – Jun
sentiu-se mais confiante.
–
Claro, antes que chegue a Dubai já terei a resposta. –Sho ficou feliz em ver
que Jun finalmente reagira. Era bom tê-lo de volta.
–
Nino, Ohno e Aiba, podem, por favor, arrumar um apartamento para elas aqui por
perto? – Jun sorriu – Diremos que é o apartamento da empresa, assim como o Aiba
fez com a Jessie. Ah, e escola para a pequena também.
–
Em que ano ela está? – Nino finalmente falou algo, interessado em ajudar. Ele
realmente sentira falta do MatsuJun que sempre organiza tudo.
–
Está com nove anos e o japonês dela é bom. Dentro de casa, só se fala em
japonês. – Jun contou, alegre, lembrando-se que ela sempre lhe contava sobre o
desempenho da filha no curso.
–
Tudo bem, eu cuido disso. – Nino concordou. – Gomen ne, Jun-kun, por
ontem.
–
Eu que me desculpo por toda a preocupação que tenho causado a todos vocês. Gomenasai. – Jun curvou-se.
–
Jun-kun, levante-se! – Aiba pediu – Estamos felizes que esteja de volta, não
precisa se desculpar.
–
Então, está nas mãos de vocês agora. Confio em vocês mais do que em mim mesmo.
– curvou-se novamente – Jamais conseguirei agradecê-los devidamente. Agora,
tenho que ir avisar ao chefe.
Jun
pegou as chaves do carro e saiu, deixando os amigos atônitos em sua sala de
estar. No caminho, ligou para a secretária do chefe, que lhe informou que ele
ainda estava em casa. Dirigiu cortando caminho até a casa de Johnny Kitagawa,
onde nunca havia estado, munido somente de sua determinação.
Não
se assustou ao vê-lo ainda de pijama quando a porta foi aberta. Ainda era bem
cedo, mas tinha pouco tempo. Johnny Kitagawa convidou-o a entrar e logo se
sentou em um dos confortáveis sofás da grande sala do chefe.
–
O que houve? – Johnny inquiriu ao perceber a agitação de Jun.
–
Estou indo para o Brasil. – ele declarou corajosamente – Serão apenas alguns
dias...
–
Você se lembra de quando eu disse que não iria mais interferir nas relações
amorosas de meus meninos? – Johnny
disse, e Jun balançou a cabeça afirmativamente – Sei que você deixou algo mal
resolvido no Brasil.
Jun
levantou sua cabeça, olhando nos olhos cansados do chefe.
–
Darei todos os subsídios para que resolva isso! Não quero que acabe como eu:
velho e solitário, remoendo um passado que jamais voltará.
–
Hontou ni arigatou gozaimashita. –
Jun curvou-se na frente do chefe.
–
Vá logo, garoto. Eu cuido de tudo aqui. – o velho senhor puxou-o pelos ombros –
Vá atrás do que é seu.
Depois
de agradecer novamente, Jun voltou ao seu apartamento. Os outros haviam saído,
provavelmente para fazer o que ele lhes pedira. Olhou para a mala sobre a cama.
–
A pior mala que já arrumei em minha vida. Não vai sobrar sequer uma camisa sem
amassar ali dentro. – reclamou,
arrancando sua própria camisa e entrando no banheiro.
*------------*
Assim
que Jun saíra, cada um deles foi fazer o que o lhes foi pedido e só então Aiba
percebeu que Jun não lhe pedira nada. Lembrou-se que havia prometido no bilhete
que deixara na cabeceira da cama que voltaria logo, então foi para a casa de
Jéssika, animado para contar-lhe a decisão de Jun.
Depois
das três batidas, entrou no apartamento. Foi até o quarto e encontrou somente
as cobertas reviradas sobre a cama.
–
Jessie? –chamou.
–
Estou aqui. – Aiba ouviu a voz fraca de Jéssika vindo da direção do banheiro –
Mas não entre, por favor.
Ignorando
o pedido de Jéssika, Aiba abriu a porta do banheiro. Ela estava sentada no chão
frio, encostada à parede em frente ao vaso, sua pele estava quase esverdeada.
Antes que ele pudesse lhe perguntar o que havia acontecido, ela perdeu os
sentidos, desmoronando sobre o piso frio do banheiro.
*------*
Assim
que saiu do banho, Jun deparou-se com Ohno, Nino e Sho em sua sala de estar.
Eles o acompanhariam até o aeroporto. Jun vestiu uma roupa confortável, colocou
um boné na cabeça, pegando sua mala e os óculos de sol.
Foram
juntos no carro de Sho, e Jun só percebeu que havia algo errado quando chegavam
ao aeroporto.
–
Onde está o Masaki? – Jun perguntou assim que sentiu falta de Aiba.
–
Teve um probleminha com a Jessie, mas vai ficar tudo bem. Não se preocupe. –
Sho disse, tentando não preocupar o amigo.
–Tudo
bem então, quando eu chegar a Dubai quero saber direitinho o que aconteceu,
entendeu? – Jun falou, sabendo que estavam escondendo algo dele.
–
Pode deixar! – Ohno sorriu, colocando o boné e os óculos de sol.
De
fato, todos se preocuparam quando Aiba avisou-os que estava levando Jéssika
para o hospital, mas decidiram fingir que estava tudo bem até que Jun partisse.
Eles tinham medo que Jun desistisse de ir e depois ficasse se lamentando.
A
tensão de Jun era visível quando este entrou na sala de embarque, com a cara
coberta por enormes óculos de sol e boné, assim como os outros, deixando-os
para trás. A viagem seria longa e ele esperava que fosse tempo suficiente para
que pudesse pensar exatamente o que dizer ao estar cara a cara com Eloise
depois de tanto tempo.
Continua...