Capítulo 6 - Ashita no Kyoku
Enquanto dirigia até o hospital,
Yuuki deixou escorrer as lágrimas que contera frente à Jun. Eram lágrimas de
pânico em vê-lo naquela situação, e em parte, de alívio por tê-lo ajudado.
Quando a ambulância chegou a casa dele, Jun em momento algum soltou a mão de
Yuuki. Ela pôde ver que ele estava com dor, mas mais que isso, com medo.
Antes de entrar no hospital,
tratou de acalmar-se. Limpou as lágrimas e retocou a maquiagem, mantendo sua
fachada impassível. Demorara tempo demais para construir essa imagem, e esse
era o momento em que mais precisava mantê-la.
Uma hora inteira se passara
desde que se sentara num dos desconfortáveis sofás da sala de espera, quando um
médico veio em sua direção.
– Você é Maeda Yuuki? – ele
aproximou-se mais, falando baixinho.
– Hai... – Yuuki respondeu, levantando-se.
– Matsumoto-san disse que estaria aqui. – o médico sorriu.
– Sensei, como ele está? – assim que ouviu o nome de Jun, não pôde se
conter.
– Está medicado. – informou,
parecendo cansado.
– Eu posso vê-lo? – as perguntas
saíam por sua boca antes que se desse em conta.
– Venha comigo. – o médico
virou-se em direção ao corredor de onde viera – Ele passou por uma série de
exames e diagnosticamos pneumonia .
– Ele vai ficar bem? – Yuuki
sentiu uma pontada de pânico.
– Certamente. Veremos como o
quadro dele evolui. – parou em frente a um quarto – Mas devo adiantar que a
recuperação necessita repouso. Não o acorde, ele precisa descansar.
– Sensei, suponho que o senhor
saiba que precisamos de sigilo absoluto, não? – Yuuki segurava a maçaneta,
pensando na reação da imprensa.
– Hai. Todo o corpo médico foi devidamente orientado. – sorriu – Mais
tarde eu volto para ver como ele está.
Observou-o seguir até o fim do
corredor e então entrou no quarto. Uma máscara de oxigênio cobria parte da face
de Jun. Yuuki aproximou-se, e com um movimento delicado, afastou os cabelos da
testa dele.
A imagem que tivera dele era de
uma pessoa ambiciosa e fria, focado em seu objetivo e pronto para derrubar
qualquer um que entrasse em seu caminho. Vê-lo naquela situação a deprimia.
Inconscientemente, colocou sua mão
sobre a dele e começou a praguejar em mandarim. Sentiu-o apertar seus dedos e
viu que seus olhos estavam semiabertos.
– Pare de xingar. – Jun
murmurou, a voz abafada pela máscara.
– Volte a dormir. – ela
sussurrou, soltando a mão dele e sentando-se na poltrona ao lado da cama.
– Arigatou. – ele sussurrou de volta, fechando os olhos novamente.
Yuuki acabou adormecendo ali
mesmo, e acordou com o dia amanhecendo, o corpo dolorido pela noite mal
dormida. Com o susto da noite anterior, ela se esquecera de avisar ao chefe.
Levantou-se num salto e seguiu até a porta, detendo-se por um segundo, para
observá-lo dormir profundamente. Saiu alisando a saia com as mãos e discando
apressada, o número de Johnny Kitagawa.
Entrando em seu carro, Yuuki
informou ao chefe sobre o internamento de Jun, evitando os detalhes sobre como
entrara em sua casa e o encontrara. Ele pediu que ela seguisse para a empresa
depois de se lavar, que ele passaria no hospital, ver a situação.
No caminho para casa, Yuuki
ouviu o celular tocar. Parou no acostamento e revirou a bolsa em busca do
aparelho. Não era o seu que tocava. Retomou a busca e tirou um iPhone branco de
dentro da bolsa. Só podia ser de Jun, que ela colocara sem querer na bolsa, no
meio da confusão do dia anterior.
– Hai, Maeda desu. –
atendeu, sem pestanejar.
– Maeda-san? – Aiba estranhou, olhando em seu celular se havia ligado certo
– Por que está com o celular do MatsuJun?
Aiba usava boné, óculos escuros
e máscara descartável enquanto esperava pelos outros. Sho fora o primeiro a
chegar, seguido por Nino e Ohno, todos igualmente disfarçados. Num momento como
este, o ideal era não chamar a atenção.
– Ano... Será que ele não vai
ficar bravo? – Aiba falou baixinho, enquanto esperavam pelo elevador.
– Se ele vai ou não, não
importa. – Sho sussurrou – Agora já estamos aqui.
– Mas e se ele ficar bravo? –
Aiba repetiu, entrando no elevador.
– Masaki, ele não vai ficar
bravo. – Nino acalmou-o – Acho que ele ficaria bravo se não viéssemos.
– Kazu tem razão. – Ohno sorriu.
Os quatro seguiram até a
recepção, e ainda disfarçados, perguntaram por Jun. As atendentes
entreolharam-se e disseram que não havia ninguém com esse nome ali. Tiraram as
máscaras e os óculos discretamente e apresentaram-se aos sussurros. Com os
olhos arregalados, uma das atendentes informou-os o quarto em que Jun estava e
em qual direção deveriam seguir.
– Viram as caras delas? – Nino
riu, andando a frente dos outros.
– Foi engraçado. – Sho ajeitou o
boné – Nunca perde a graça, né Riida?
– Hai. – Ohno concordou, mas parecia preocupado – Minna, vai ser difícil agora.
– Ele vai ficar bom logo, Riida. – Aiba tentou tranquilizá-lo e
deu alguns tapinhas nas costas de Ohno, mas não conseguia disfarçar sua própria
preocupação.
– Olha, aquele não é o quarto
dele? – Sho apontou para uma porta de onde saía um médico.
– Deve ser. – Nino deu de
ombros.
– Sensei! – Aiba apressou o passo para alcançar o médico.
– Hai? – o médico virou-se, observando os quatro.
– Arashi no Aiba Masaki desu.
– Aiba curvou-se – Como ele está?
O médico hesitou por alguns
segundos, até que Aiba tirasse novamente os óculos e abaixasse a máscara.
– Ele está respondendo bem aos
medicamentos. – sorriu – A febre cedeu.
– Sensei, ele vai ficar bem? – Aiba insistiu.
– Não se preocupe! Ele é jovem e
forte, vai ficar bem sim. – o médico falou, confiante, e afastou-se em seguida.
– Estamos entrando! – Nino
falou, enquanto abria a porta, sem cerimônia.
Com os olhos semiabertos, Jun
assustou-se ao vê-los entrar. A máscara de oxigênio havia sido retirada e ele
respirava com alguma dificuldade ainda.
– O que estão fazendo aqui? –
Jun falou baixinho.
– Exatamente o que parece. –
Nino começou, sorrindo – Viemos ver como está.
– Estou com sono. – Jun sorriu.
– Riida, deve ser algo muito sério! – Nino sussurrou para Ohno – Ele
está até brincando!
– Estou com sono, mas não estou
surdo! – Jun reclamou, ajeitando-se na cama.
– Mau humor detectado. – Nino
analisou – Ele está bem.
Os outros riram, inclusive Jun.
– Mas como foi que descobriram?
– Jun ainda tinha um sorriso nos lábios.
– Eu liguei pra você e a Maeda-san atendeu. – Aiba contou, ainda
preocupado, mas tentando manter a atmosfera calma.
– Eeeeeeeh?! Meu celular está com ela? – Jun estranhou.
– Ela disse que deve ter
colocado sem querer na bolsa, ontem, na confusão com a ambulância.
– Faz sentido. – Jun lembrou-se
da expressão dela ao entrar no quarto e não pôde deixar de se sentir envergonhado
pela maneira como se agarrara à mão dela.
– Então, ela nos falou que
estava aqui. – Aiba continuou.
– Só isso? – o sangue subiu todo
para as bochechas de Jun, ruborizando.
– Hai. Tinha mais alguma coisa? – Nino sorriu, debochado.
– Ah, iie. – Jun negou veementemente.
Antes que Sho pudesse dizer
qualquer coisa, seu celular tocou e ele saiu discretamente.
– Hai, Kumiko-san? – Sho
atendeu, fechando a porta atrás de si e abafando a conversa.
– Minna, hontou ni gomenasai. – Jun falou. Era a primeira vez, em
quase 14 anos, que sentia que realmente deveria se desculpar pelo transtorno
que estava causando.
– Daijobu, Matsumoto. – Nino sorriu, lembrando-se das vezes em que
Aiba ficara hospitalizado e da maneira que Jun se desdobrava para cobrir os compromissos
dele.
– Não se desculpe! Só fique bom
logo! – Aiba falou, lembrando-se do que Jun dissera a ele, menos de dois anos
atrás, quando ficara internado pela última vez.
– Se esforce para ficar bom! –
Ohno sorriu, enquanto Sho entrava novamente no quarto.
– Ano...Matsumoto, temos que ir. – Sho não conseguia esconder sua
apreensão – Voltamos mais tarde.
Jun sabia que outra reunião
havia sido marcada para reorganização das agendas e os outros deveriam se
desdobrar ainda mais para cobrir Jun. Ele lembrou-se de quando Aiba ficara
doente, e de como todos raramente conseguiam tempo para dormir enquanto ele não
estava 100% recuperado.
– Arigatou por virem! – Jun falou, alto o suficiente para que todos o
ouvissem enquanto deixavam o quarto.
– Gambatte! – Aiba exclamou, fechando a porta atrás de si.
– Sho-chan, ele se desculpou! –
Aiba contou, ainda surpreso com a atitude de Jun.
– Hontou? – Sho ficou boquiaberto.
– E agradeceu por virmos também.
– Ohno observou.
– Vindo dele, é estranho né? –
Sho comentou, seguindo até seu carro – Riida
vem comigo?
– Hai. – Ohno seguiu-o. Como não tinha carteira de motorista,
invariavelmente pegava carona com um deles, ou tomava um taxi.
Após a saída dos quatro, Jun
finalmente rendeu-se aos remédios e caiu no sono novamente. Seu quarto quase
parecia uma estação de trem: Yuuki saíra com o dia amanhecendo, ele nem pôde
vê-la; Johnny Kitagawa estivera ali cedo, assim que Jun havia acordado, e como
este ainda estava com a máscara de oxigênio, o chefe disse algumas palavras
sobre cuidar de sua saúde e saiu em seguida.
Depois de ignorar por completo a
comida que lhe fora servida no almoço, Jun lembrou-se de seu celular. Chamou a
enfermeira, e com um sorriso amarelo no rosto, pediu se ela poderia arrumar um
telefone para ele. Poucos minutos depois, a jovem enfermeira voltou para o
quarto com seu próprio celular em mãos e entregou para ele, pedindo para chamar
quando terminasse de usar, e deixando o quarto em seguida.
Jun discou o próprio número, e
aguardou. Chamou até cair.
– Pega meu celular e nem me
atende! – praguejou, enquanto discava novamente.
– Hai, Maeda desu. – Yuuki atendeu no segundo toque.
– É assim que atende o celular
dos outros? – Jun rosnou, um sorriso involuntário em seu rosto.
– Matsumoto-san! –
exclamou.
– Eu mesmo. – grunhiu – Vai
trazer meu celular de volta? – o que ele realmente queria saber, era se ela
viria vê-lo novamente, mas seu orgulho jamais permitira que admitisse isso.
– No fim do dia – começou –
se tudo correr bem. – deu um longo suspiro – Precisa de alguma coisa?
– Iie,
arigatou. – sorriu – Só do meu celular mesmo.
– Então, matta ne. –
desligou.
Devolveu o celular à enfermeira,
exibindo outro largo sorriso e depois deixou que sua mente vagasse até que
pegasse no sono novamente. Acordou com o médico checando o medicamento no soro
e em seguida, Nino e Aiba chegaram.
– Mas já voltaram? – Jun sorriu
ao vê-los ali.
– São quase nove da noite! –
Aiba constatou, olhando em seu relógio de pulso.
– Nem percebi que dormi por
tanto tempo. – Jun reclamou.
– É normal dormir bastante. –
Nino zombou – Lembra do Aiba-chan?
– Um dos pré-requisitos para um
doente profissional é dormir muito. – Aiba sorriu – Medicamento forte dá sono
mesmo.
– Hum. Mas e aí, como foi hoje?
– Jun não conseguiu esconder a curiosidade.
– Tivemos algumas reuniões e
decidimos adiar algumas gravações. Nós não podemos fazer sem você, então, trate
de melhorar! – Nino comentou.
– Gomenasai. – Jun sussurrou.
– Ei! Nunca pediu desculpas na
vida! Não vá gastar todas elas agora! – Aiba brincou, colocando uma sacola
sobre a cama – Toma, algumas revistas e mangás
pra você ler.
– E aqui, meu DS. – Nino entregou para Jun – Cuide
dele com sua vida, e me devolva depois!
– Kazu, você nem joga mais
nesse! – Aiba constatou.
– Não importa! É meu e eu quero
de volta. – Nino rosnou para Aiba.
– Eu devolverei inteiro. Arigatou, minna! – Jun sorriu.
Mesmo com sua personalidade
ruim, os outros o estavam tratando do mesmo modo que trataram Aiba quando este
adoecera. Talvez eles o vissem como um amigo, afinal. Era tocante isso,
considerando que eles trabalhavam como doidos durante todo o dia e ainda davam
um jeito de cuidar dele durante a noite.
Logo, os dois se despediram e
deixaram o quarto, prometendo voltar no dia seguinte. Jun queria estar acordado
quando Yuuki chegasse, para que pudesse, ao menos, agradecê-la direito, então,
abriu o DS e começou a tentar jogar
com a mão boa.
– Poxa, que falta de
consideração, Kazu! – Jun resmungou, percebendo que jamais conseguiria jogar com
uma mão só, mesmo que fosse a direita.
Sorriu, largando o DS e abrindo um dos mangás de Aiba. Era o último volume de um shonen que ele acompanhava, então, jogou-se na leitura. Mesmo que
estivesse sem lentes, seu problema era para enxergar longe, portanto, conseguia
ler perfeitamente. Quando estava nas últimas páginas, uma enfermeira mais velha
entrou no quarto e aplicou a medicação novamente.
– Hora de dormir – a enfermeira
sussurrou baixinho, saindo do quarto.
Quando Yuuki chegou ao quarto,
Jun tinha o mangá aberto sobre seu
peito, vários travesseiros atrás das costas, de modo que estava quase sentado e
dormia profundamente. Ela retirou alguns travesseiros, deitou um pouco mais a
cama, fechou o mangá, tomando o
cuidado de marcar a página, e cobriu-o melhor.
Passara em casa antes de vir, e
como sabia que acabaria dormindo por ali, tomou um banho e comeu algo. Ele
parecia bem melhor sem a máscara de oxigênio, e sua respiração parecia mais
uniforme, o que a tranquilizou.
Novamente, afastou o cabelo dos
olhos dele, e depois de uma boa olhada, sentou-se na poltrona desconfortável,
retirando os sapatos e soltando os cabelos. Em poucos minutos pegou no sono,
observando a respiração irregular de Jun.
Saiu com dia clareando,
observando-o ressonar calmamente, e lembrando-se de deixar o celular sobre a
mesa de cabeceira.
No segundo dia, Sho trouxe
revistas, jornais, alguns livros; Ohno trouxe uma revista de pesca, contando
alegremente sobre uma das matérias que lera; Nino tentou provar para Jun como
era possível jogar com uma só mão, falhando miseravelmente e Aiba trouxe outros
mangás, visto que Jun lera todos.
Johnny Kitagawa voltara, pedindo que não deixasse sua saúde de lado, e que se
esforçasse para ficar bom, porque o Arashi precisava dele.
Jun não sabia se Yuuki viria
novamente, mas ele tinha certeza de que ela havia dormido ali, na noite passada
também. Ele sentiu que ela o arrumava na cama, mas não conseguira nem abrir os
olhos. Ele ouviu quando ela saiu, pela manhã, mas tampouco conseguiu acordar.
Torceu para que ela viesse novamente e pediu para que deixassem um cobertor
sobre a poltrona.
Folheava uma das revistas de
economia que Sho trouxera, quando a enfermeira velha entrou novamente, e
aplicou a medicação. Quando ela disse “Hora de dormir”, Jun sorriu, pensando
que, como dormira ainda mais nesse dia que no anterior, o medicamento não o
afetaria tão rapidamente.
Yuuki passara o dia todo
pensando se deveria ir e, por fim, resolveu que não conseguiria dormir em casa.
Não conseguia nem explicar o motivo, mas sentia que deveria dormir com ele no
hospital. Ao chegar, deparou-se com ele na mesma situação que no dia anterior,
e cuidadosamente arrumou-o na cama.
Havia um cobertor sobre a
poltrona em que dormira nas duas noites anteriores e tratou de puxá-lo sobre
si. Os dois últimos dias haviam sido terríveis na Johnnys e a calmaria do
hospital a agradava. Observar o peito de Jun subindo e descendo a acalmava e
novamente adormeceu olhando para ele.
Quando saía do quarto, ao
amanhecer, topou com uma senhora no corredor. Tinha mais de 50 anos,
certamente, mas parecia muito nova, e era muito bonita. Sua face estava marcada
por linhas de preocupação, e andava rapidamente em direção ao quarto de Jun.
Antes que saísse do hospital,
seu celular tocou estridente.
– Hai, Maeda desu. –
atendeu.
– Yuuki, cubra sua face! Não deixe que ninguém te veja! – Johnny
falou, nervoso – E venha para minha casa.
Não vá para a JE!
– Tio, o que aconteceu? – Yuuki
estranhou, mas puxou os óculos de sol da bolsa e colocou em sua face, atendendo
ao pedido do chefe.
– Yuuki, vazou para a mídia. Estão todos atrás de você. – ele parecia
apavorado – Você está nas capas de todas
as revistas.
Continua...
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