Capítulo 19
Vários
minutos se passaram e intensas trocas de olhares substituíram as palavras não
ditas em todos aqueles anos. Ambos choravam, e a primeira coisa que Eloise
conseguiu fazer, quando retomou seus movimentos, fora puxá-lo em um abraço apertado
– e ele não lhe ofereceu resistência alguma.
–
Eu posso entrar? – Kenji perguntou, depois de vários minutos abraçados. Eloise
sentiu um arrepio percorrer seu corpo ao ouvir a voz dele. O olhar dele dizia:
“Tudo bem se eu voltar?”
–
É... é claro! – Eloise exclamou, embaraçada, ainda imersa em lágrimas, e abriu
espaço para que ele entrasse em seu apartamento.
Kenji
entrou, passando a alguns centímetros de Eloise, que ao sentir o cheiro dele,
seu coração bateu ainda mais rápido. As lágrimas não paravam de escorrer por
seu rosto, e Eloise realmente não sabia o que dizer. Seu cérebro tentava
organizar tudo, mas seu coração disparado fazia com que perdesse o foco.
–
Estranho, né? – Kenji falou, depois de passado algum tempo, em que Eloise
olhava fixamente para o chão, perdida em pensamentos.
–
O quê? – ela perguntou, surpresa.
Kenji não conseguia esconder sua felicidade e um
grande sorriso ocupava seu rosto.
–
Mesmo depois de todo esse tempo eu ainda sinto seu coração batendo mais forte
quando estou perto, seu cheiro é o mesmo. E eu me sinto completo ao seu lado. –
ele falou, aproximando-se dela novamente, e envolvendo as mãos de Eloise com as
suas.
–
Eu... eu... – Eloise gaguejou, mas as lágrimas eram tantas que a impediram em
continuar.
–
Não importa o que aconteceu. Eu ainda te amo. – Kenji falou olhando-a nos
olhos.
–
Como... como você chegou aqui? – Eloise falou, por fim. Entre todas as
perguntas que tinha em mente, essa lhe pareceu mais importante.
–
A Jéssika me ligou, disse que estava aqui e eu vim o mais rápido que pude... –
Kenji falou, sem largar as mãos dela.
–
A Jéssika? – Eloise repetiu, atônita.
Antes
que pensasse duas vezes, Eloise largou as mãos de Kenji e saiu em disparada até
a casa da amiga, murmurando um “espera um pouco” antes de sair. Entrou sem nem
mesmo bater na porta e ignorou o fato de que Aiba estava ali. Também não pensou
em controlar o volume da voz.
–
PORQUE É QUE VOCÊ ACHA QUE TEM O DIREITO DE SAIR POR AÍ CONTANDO PARA AS
PESSOAS ONDE EU MORO? – Eloise gritou assim que encontrou Jéssika, sentada no
sofá com Aiba ao seu lado, ambos assustados pela entrada repentina dela. – Todo
o cuidado que tive durante todos esses anos e você faz isso comigo! E eu
achando que podia confiar em você!
–
O que aconteceu, Elô? – Jéssika perguntou, sabendo exatamente do que se tratava,
mas se fazendo de desentendida.
–
Não finja que não sabe! Ele está ali! Está dentro da minha casa! Por que você
me traiu desse jeito? – Eloise falou, gesticulando em direção ao seu
apartamento. Enquanto gritava, lágrimas escorriam em sua face.
–
Quer saber mesmo? Fiz isso porque gosto demais de você pra ver você sofrendo e
não fazer nada! Disse mesmo para ele e sei que um dia você vai me agradecer! –
a amiga falou, levantando-se e aumentando o tom de voz também, mas logo
diminuindo para não mais que um sussurro – Só que eu achei que ele não viria de
imediato, pensei que fosse demorar mais alguns dias, que as coisas estariam
mais calmas até lá...
–
Agora, a única coisa que posso te dizer, é que se equivocou! Meus sentimentos
já estavam descontrolados e ele aparece! Como você achou que eu fosse ficar?
Não vou te agradecer por isso! Você está bagunçando ainda mais uma coisa que já
parecia sem saída! – Eloise continuava a gritar.
Aiba, que não conseguia entender o motivo da discussão
– pois esta era em português –observava atônito.
– Volte a falar comigo quando se acalmar – Jéssika
falou, sentando-se novamente e apontando para a porta – Tudo que eu podia
dizer, já disse.
~~
Eloise
saiu, deixando um Kenji atônito plantado no meio da sala. Sem saber o que
fazer, ele resolveu que sentar-se seria uma boa. Acomodou-se no sofá e começou
a olhar aquele lugar. Havia várias fotos espalhadas pela sala, de Eloise com
uma garotinha, com Jéssika e algumas mais antigas, que ele conhecia, dela com a
mãe, com o irmão e com o pai.
O
coração dele batia rapidamente, e ele sentia que aquela noite seria especial.
Afinal, depois de tantos anos, poderia estar ao lado de seu amor. Ele
recusava-se a pensar na possibilidade de Eloise ter outra pessoa. Acreditava
que o coração dela ainda era seu.
Enquanto
estava perdido em pensamentos, ouviu passos. Olhou para trás e deparou-se com a
mesma garotinha da foto: cabelos negros longos e olhos claros, levemente
puxados.
–
Tio, você viu minha okaasan? – Harumi perguntou, assim que viu o estranho
sentado no sofá.
–
Quem é sua okaasan? – Kenji perguntou, imaginando que Eloise deveria ser babá
da pequena ou algo do tipo.
Harumi
foi até a televisão, pegou o porta-retratos que estava ao lado dela e levou até
ele, entregando-o.
–
Essa aqui, ó. – Harumi falou, colocando o dedo indicador sobre Eloise na foto.
Assustado,
Kenji deixou que o porta-retratos escorregasse de suas mãos, e este caiu no
chão, quebrando o vidro e soltando a foto que estava dentro dele. Harumi
observou-o com olhar reprovador por ter derrubado sua foto preferida.
– Desculpa. – Kenji murmurou, juntando os cacos. Surpreendeu-se
novamente ao ver que no porta-retratos havia mais de uma foto. Atrás da foto de
Eloise com a pequena, havia uma foto dele com Eloise, tirada vários anos atrás.
Escrito atrás da foto dele, no cantinho, encontrou a palavra 家族 (família).
Seu
cérebro tentava entender o significado daquilo, mas só tinha uma conclusão
possível: a pequena era fruto da relação que tivera com Eloise. Ele não
conseguia entender o motivo de Eloise ter fugido dele e de ter se escondido por
tantos anos.
Harumi
ainda o observava, fazendo beicinho.
–
Tio, você sabe onde minha mãe está? – ela perguntou novamente, prestes a
chorar.
–
Ela saiu, mas já volta. – Kenji falou, sem saber como lidar com a pequena –
Qual seu nome?
–
Harumi. – Haru sorriu ao dizer – E eu tenho 3 anos! – adicionou, mostrando sua
idade com os dedos.
–
Cadê seu otousan? – Kenji perguntou, para ter certeza sobre suas suposições.
–
Não sei... Okaasan não disse... – Harumi contou.
–
Entendo. – Kenji falou, observando-a. Realmente ela se parecia com ele, mas com
muitos traços da mãe. – Liga a TV e vamos esperar sua okaasan juntos, tá bom?
–
Hai! – Harumi assentiu, ligando a televisão e sentando-se ao lado de Kenji, que
a observava sem piscar.
~~
Eloise
saiu da casa da amiga, ainda transtornada. No corredor, se encostou à parede e
tentou recompor-se para voltar. Deixou seu corpo escorregar até o chão e
abraçou as pernas, dessa vez, sem chorar. Todas as lágrimas foram substituídas pela
raiva que sentia da amiga.
Alguns
minutos se passaram e Eloise percebeu que não havia mais como evitar a conversa
com Kenji. Levantou-se e seguiu lentamente até seu apartamento. Pela abertura
da porta pôde ver Kenji e Harumi sentados lado a lado, a pequena assistindo TV
e Kenji observando-a como se fosse a joia mais preciosa do mundo.
–
Tadaima – Eloise murmurou, entrando na sala e surpreendendo-os.
–
Okaeri! – Harumi falou, pulando na mãe – Okaasan, olha meu amigo!
Eloise
olhou brevemente para Kenji como quem diz “eu posso explicar”, mas rapidamente
voltou sua atenção para a pequena.
–
Haru, você não deveria estar dormindo? – Eloise perguntou.
–
Hai, mas é que eu tive um sonho ruim e acordei. Aí vim procurar você e esse tio
tava aqui... – Harumi explicou.
–
Então a mama vai colocar você na cama de novo e levar leite quentinho, tá bom?
– Eloise falou, indo em direção ao quarto com Haru em seu colo, deixando Kenji
na sala.
Eloise
acomodou a pequena, e logo voltou com o leite que prometera. Deitou-se ao lado
de Haru, acariciando seus cabelos e cantarolando baixinho para que ela
adormecesse. Deixou sua mente vagar, tentando pensar o mínimo possível na
conversa que viria a seguir.
~~
Kenji
novamente fora deixado na sala, confuso com sua descoberta. Ouviu Eloise na
cozinha, e depois o silêncio foi quebrado novamente pela voz dela, que
inconfundivelmente cantava a música que compuseram juntos.
Seguindo
a voz, entrou em um corredor e logo se deparou com a porta do quarto da
pequena, onde estava escrito em letras grandes o nome dela. Pela fresta da
porta, ele observou Eloise deitada abraçada à Harumi, cantarolando baixinho.
Harumi estava com os olhos fechados e, ao que tudo indicava, já estava perdida
no mundo dos sonhos.
Aquela
cena o levava a pensar no quanto perdera da vida de sua filha – se é que era
mesmo – e quais foram os motivos que levaram Eloise a deixá-lo.
Continua...
Que barraco Isê chan!!! Tadinho do Aibakaa!!! xDD Omedetou pelo 19º capítulo dessa fic linda!! E, mais uma vez, que venham os próximos capítulooos!!!
ResponderExcluirJúlia Vicheti =3
Poisé, quando a fic tá chegando no fim que começa a esquentar! :) Aiba boiando ali no meio, com cara de assustado ~
ResponderExcluirCapítulo 20 tá escrito já :)
Obrigada por ler e comentar, Julia ~
Lindo!!!! Foi esse cap q a inspiração veio de My Girl, né? Adorei. E fico pensando qual cabeça q deve estar mais confusa a da Eloise ou a do Kenji!
ResponderExcluir-Dani
Na verdade, a inspiração de My Girl veio no 12, mas eu venho usando ela como base desde então :)
ResponderExcluirE daqui a pouco a confusão vai passar pra cabeça do Jun também ~ é transmissível ~
Dani, obrigada por ler e comentar! :)
Ah ta. É q eu tive a impressão d ter um pouco d My Girl nesse tb =)
Excluir-Dani
My Girl é a inspiração master, mas nem pensei muito na música nesse capítulo :)
ExcluirEu tbm faria q nem a Jé.... não iria aguentar uma amiga sofrendo por tanto tempo ... mesmo com o mais grave dos problemas
ResponderExcluirOmedetou Ise-chan XD