Capítulo 22
Assim
que os primeiros raios de sol invadiram o quarto, Kenji acordou. Um sorriso
ocupou sua face quando viu quem estava ao seu lado: sua amada e sua filha.
Mesmo ele tendo descoberto há muito pouco sobre a existência de uma filha, já a
amava de todo o coração, como se ela sempre tivesse estado ao lado dele.
Mãe e filha ressonavam calmamente, então Kenji
resolveu levantar-se e preparar o café da manhã para as duas. Vasculhou a
geladeira e, alguns minutos depois, uma mesa digna de novela estava posta,
esperando que elas acordassem.
Cheirou sua camisa e constatou que precisava de um
banho. Antes de sair, rabiscou um bilhete, avisando que iria até o hotel e que
logo voltaria.
Ainda era tudo muito confuso, mas ele estava muito
feliz por poder estar ao lado de Eloise novamente, mesmo que não tivessem
resolvido muita coisa na noite anterior. Saber que tinha uma filha era algo que
ele nunca havia imaginado, uma sensação desconhecida, e ele simplesmente se
sentia responsável por ela agora, sentia que tinha que amá-la e protegê-la de
tudo e todos.
O
hotel era perto do apartamento de Eloise, então foi andando. Ao entrar no
saguão deparou-se com um grupo de japoneses tentando conversar com a
recepcionista. Percebeu que eles estavam encontrando dificuldades e então se
aproximou.
–
Vocês precisam de ajuda? – Kenji perguntou no que julgava ser um japonês
perfeito.
–
Ah, arigatou! – um deles exclamou – Precisamos de um táxi.
–
Para onde? – Kenji perguntou, sabendo que a recepcionista pediria o endereço.
Outro deles, que aparentava ser o mais novo, falou o endereço.
Kenji
encarregou-se de pedir à recepcionista um táxi para os quatro e, dizendo um
“sayonara”, deixou-os no saguão esperando pelo veículo. Aquela sensação de que
os conhecia de algum lugar não abandonava sua cabeça.
Como
costume, deixou tocando músicas no celular enquanto tomava banho, e depois da
terceira ou quarta música, uma bem conhecida começou a tocar. Reconheceu-a
instantaneamente e começou a cantarolar junto. Era a música que fizera o cover
para Eloise: My Girl. Só quando a música já estava no final, deu-se conta de que
os japoneses que ajudara quando chegou eram ninguém mais, ninguém menos que
quatro dos cinco membros do Arashi.
Pensando
em contar logo pra Eloise, terminou o banho, fez a barba rapidinho e vestiu-se.
~~
Quando
acordou, Eloise encontrou um bilhete sobre a cabeceira da cama. Harumi ainda
dormia tranquilamente e, como era sábado, a pequena não tinha que ir para a
escola. Percebeu as cobertas reviradas do lado oposto da cama e concluiu que
Kenji havia dormido ali.
Nem
sabia o que pensar, tudo havia ficado tão confuso na noite anterior... Ela
acabou dormindo sem poder concluir as tantas coisas que estavam pendentes há
anos.
Levantou-se
e foi até a cozinha, onde encontrou todo o conteúdo de seus armários e
geladeira arrumados sobre a mesa. Ele havia feito até panquecas. Esboçou um
sorriso para a atitude de Kenji. Ele sempre fizera café da manhã e ela havia
sentido falta disso cada dia que passara longe dele.
Sabendo
que ele demoraria, foi tomar banho. A água quente caindo sobre sua cabeça a
ajudava a determinar coisas que não conseguira na noite passada.
Com
o cabelo enrolado em uma toalha e o corpo em outra, Eloise ouviu a campainha
tocar. Certa de que era Kenji, correu até a porta e abriu-a. Sobressaltou-se
quando percebeu que não era Kenji e sim, Ohno, Nino, Sho e Jun.
Antes
que pudesse pensar duas vezes, bateu a porta na cara deles.
–
Ei! O que aconteceu? – Sho perguntou, confuso com a reação dela.
–
Ela estava enrolada numa toalha – Jun sussurrou para os outros.
–
Eu preciso me vestir! – Eloise respondeu, encostada à porta, do lado de dentro.
–
Vai, nós esperamos aqui. – Nino respondeu, num tom reclamão, puxando o DS do
bolso.
Eloise
correu até seu quarto e pegou a primeira roupa que viu na frente, um vestido de
malha meio curto, vestiu-o e foi até o banheiro. Penteou os cabelos de qualquer
jeito e voltou à porta.
Totalmente
envergonhada, Eloise abriu-a novamente e deparou-se com os quatro esperando-a
pacientemente.
–
Gomen ne.– Eloise disse, curvando-se.
–
Ohayou! – Sho exclamou, ignorando as desculpas dela.
–
Ohayou gosaimasu! – Eloise respondeu e convidou-os a entrar.
Os
quatro acomodaram-se no sofá e durante alguns segundos ninguém falou nada.
–
À que devo a honra da visita, em pleno sábado pela manhã? – Eloise perguntou,
sorrindo.
–
Aiba-chan não dormiu no hotel, então viemos ver se está tudo bem – Nino
começou.
–
Mas como ficamos com vergonha de bater lá, achamos melhor passar aqui antes. –
Jun completou, mantendo seus olhos fixos nos de Eloise, como se esperasse algum
sinal.
–
Ahm... Verdade, quando eu fui lá ontem de noite ele estava lá. – Eloise falou,
lembrando-se da gritaria que havia feito na frente dele.
–
Você não quer ligar pra Jessie e pedir para o Aiba vir? – Sho perguntou,
pensando que seria mais fácil que bater lá na cara dura e acabar com o romance.
–
Bom, acho melhor você ligar. – Eloise disse, sabendo que ficaria estranho se
ligasse pra Jéssika depois da briga que tiveram, entregando seu celular para
Nino – Já está chamando.
–
O quê? Eu? – Nino falou, levando o celular à orelha – Ah, Oi, Jessie. É... é o
Nino.
–
Então o Aiba dormiu na casa da Jé? – Eloise perguntou, pensando sobre a noite
dos dois.
–
Achamos que sim, já que ele não voltou para o Hotel. – Sho respondeu.
–
Er, o Aiba tá vindo. – Nino informou – Eles ainda estavam dormindo.
~ ~
Jéssika
e Aiba acabaram por adormecer no sofá, Aiba no canto, abraçado a ela, que
estava mais na ponta, enquanto assistiam ao quarto filme da noite.
Quando
amanheceu, Jéssika acordou com a claridade que entrava pela persiana e chamou
Aiba para que fossem dormir no quarto, onde era mais escuro. Ambos, bastante
sonolentos, largaram-se na cama e dormiram novamente, abraçados.
Ouvindo
seu celular tocar ao longe, Jéssika acordou. Assustou-se ao constatar que era
Nino, e demorou alguns segundos para lembrar que deveria falar em Japonês.
Depois
de perceber que Aiba acabara por não avisa-los que dormiria em sua casa,
Jéssika prometeu que iria acordá-lo e que logo ele estaria no apartamento de
Eloise.
–
Masaki? – Jéssika sussurrou bem perto do ouvido dele, beijando sua clavícula.
–
Hm? – Aiba gemeu e virou-se.
–
Acho melhor acordar. Estão vindo te buscar com tridentes e archotes aqui,
porque você não avisou que ia dormir fora. – Jéssika falou, sabendo que assim
ele despertaria.
–
Hã? – Aiba perguntou, levantando-se de um salto.
–
Estou brincando! – Jéssika exclamou, aproximando-se dele e beijando sua face. –
O Kazu ligou pedindo que você fosse pra casa da Eroise.
–
Eles estão ali? – Aiba perguntou, tirando uma mecha do cabelo de Jéssika que
havia caído sobre o olho.
–
Acho que sim. – Jéssika respondeu – Mas eu não vou com você. Acho melhor deixar
as coisas esfriarem um pouco, depois de ontem...
–
Verdade – Aiba falou, olhando-a com ternura.
–
Quer tomar banho? Só não tenho roupas limpas, mas posso te emprestar uma
toalha. – Jéssika sorriu.
–
Acho que vou querer. Aqui é muito quente! – Aiba exclamou.
–
Nem queira ver como é o verão! – Jéssika disse, entregando-lhe uma toalha
macia. – Vai tomar banho que vou arrumar algo para comer.
–
Tá bom. – Aiba disse, tirando a camisa antes de entrar no banheiro. Jéssika
percebeu a linha fina que era a cicatriz em seu peito, e aproximou-se. – O que
foi?
–
Nada, é só que... tenho muito orgulho de você. – Ela disse, passando o dedo na
cicatriz e em seguida, beijando-a.
Aiba
abraçou-a ternamente e beijou seus lábios, do mesmo jeito que fizera na noite
anterior. Em seguida entrou no banheiro, fechando a porta atrás de si.
Depois
de sair do banho, tomaram café da manhã juntos, e Jéssika abriu a porta pra
ele, despedindo-se com outro beijo.
Aiba
atravessou o corredor e tocou a campainha do apartamento de Eloise, que logo
abriu, com um largo sorriso no rosto. Nem bem entrou, Nino, Sho e Ohno disseram
que eles tinham que sair, sem informarem o motivo e puxaram-no para fora do
apartamento.
~ ~
Assim
que Jun e Eloise foram deixados sozinhos, Jun percebeu que Eloise ficava
desconfortável.
–
A Haru ainda está dormindo? – Jun perguntou, olhando-a com curiosidade.
–
Hai! – Eloise respondeu, sem saber o que fazer.
–
Percebi a mesa posta para o café, duas xícaras, duas facas... Está esperando
alguém? – Jun perguntou, sabendo que poderia ouvir algo que não queria.
–
Na verdade... estou. Sinto muito. – Eloise disse.
–
Você vai me dizer quem é? – Jun perguntou, segurando uma das mãos dela.
–
O pai da minha Haru. – Ela disse, decidindo que ser direta era o melhor a ser
feito. Pensar num amor impossível e à distancia, nesse momento, lhe parecia
surreal, apesar de sentir algo se partindo dentro de si.
–
Mas ele... – Jun começou e foi interrompido por Eloise.
–
Ele voltou. Ele me encontrou. – Eloise disse, sentindo uma parte de seu coração
sendo dilacerada.
–
E eu...? – Jun disse, confuso.
–
Nunca houve nada, não é? – Eloise disse, sentindo a aspereza de suas palavras.
–
Como...? Hã? – Jun nem sequer conseguia entender o sentido das palavras dela,
que se misturavam em sua cabeça.
–
Foi só uma brincadeira, uma aventura. Você queria saber como era ficar com uma
fã. – Eloise falou, sabendo que o que estava dizendo não era verdade – Pronto,
experimentou. Daqui a três dias está indo embora, então, prefiro que não haja
mais nada desde agora.
–
O quê? O quê...? – Jun quase podia ouvir seu coração sendo quebrado em várias
partes, como vidro sendo atirado ao chão.
–
Você sempre, sempre será meu ichiban, mas agora, por favor, me deixe em paz. –
Eloise falou, e abriu a porta para que ele saísse.
Quando
olhou para fora, constatou que Kenji estava ali, com o dedo quase apertando a
campainha. Ele observou curiosamente a cena: Eloise segurando a porta, e Jun
com cara de quem fora atropelado por um caminhão.
–
Por favor. – Eloise repetiu.
Jun
não conseguiu dizer nada, só abaixou a cabeça e saiu, sentindo que poderia
desmoronar a qualquer segundo.
Kenji
entrou, curioso, assim que Jun saiu, e fechou a porta atrás de si.
Quando
chegou ao meio do corredor, Jun não pôde mais suportar. Encostou-se à parede e
deixou que seu corpo escorregasse até o chão, onde envolveu as pernas com os
braços e chorou baixinho por horas a fio, desejando que sua mãe tivesse ali
para lhe consolar.