Capítulo 21
Vários
minutos se passaram enquanto Kenji observava Eloise e Harumi pela fresta da
porta, e foi só quando Eloise parou de cantarolar que ele percebeu as lágrimas
que escorriam pela face dela. Ignorando o forte impulso de entrar no quarto e
abraçá-la novamente, Kenji resolveu que era mais sensato deixá-la passar por
isso, que ela iria saber explicar tudo o que acontecera, mas que tinha que
lutar contra si mesma sozinha.
Sentindo
um aperto forte no coração, Kenji foi até a cozinha e vasculhou os armários atrás
dos chás, que sabia que Eloise teria guardado em algum lugar. Encheu a chaleira
de água e colocou para esquentar enquanto procurava por duas xícaras nos
armários desarrumados. Colocou-as sobre a mesa e deixou sua mente vagar,
esperando que Eloise voltasse logo.
Foi
arrancado de seus pensamentos pelo barulho da chaleira chiando e rapidamente
colocou os saquinhos de chá nas xícaras, enchendo-as em seguida com água
quente. Sentou-se à mesa e esperou pacientemente que Eloise voltasse, sabendo
que uma longa e difícil conversa estava por vir.
~~
Quando
percebeu que a respiração de Harumi estava mais leve e ritmada, concluiu que
ela havia dormido. Novamente deixou que as lágrimas escorressem, aliviando todo
o conjunto de sentimentos reversos que sentia.
Não
sabia como iria contar tudo pra ele, mas sabia que deveria. Tinha medo de como
ele reagiria e, se continuaria a amando mesmo com tudo isso, se aceitaria
Harumi mesmo depois de tanto tempo.
Vários
minutos se passaram e só quando ouviu o familiar chiar da chaleira, lembrou-se
que ele a esperava. Beijou a testa de Harumi e sussurrou baixinho:
–
Deseje boa sorte à okaasan, meu anjinho.
Kenji
estava sentado à mesa, com uma xícara de chá em suas mãos e outra bem na sua frente,
exatamente como faziam anos atrás, quando ainda namoravam. Eloise entrou na
cozinha, os olhos inchados e avermelhados, e sentou-se na cadeira em frente a
ele, pegando sua xícara de chá.
–
Desculpe a demora, ela custou a dormir. – Eloise disse, sentindo sua face
ruborizar e suas mãos tremerem levemente.
–
Acho que você tem muito a me contar, né? – Kenji falou, olhando-a nos olhos.
–
Eu não sei por onde começar. – Eloise murmurou, mais pra si mesma, sentindo
seus olhos marejarem.
–
Gostaria que começasse pelo começo. – ele sorriu.
–
Promete não dizer nada enquanto eu estiver falando? – ela disse, mas percebeu
que não estava no direito de pedir que ele prometesse qualquer coisa – Não, não
precisa prometer nada.
Kenji
assentiu, bebericando em sua xícara. Eloise percebeu que toda a atenção dele
estava voltada para ela, e não conseguiu prosseguir. Sentiu as lágrimas
escorrendo novamente e brigou consigo mesma por ser tão fraca.
–
Fica mais fácil se eu fizer perguntas? – ele falou calmamente, percebendo que
Eloise não conseguiria contar tudo tão cedo.
Eloise
assentiu, e mais lágrimas rolaram em sua face. Seus lábios tremeram levemente.
–
Por que fugiu? – perguntou, mas logo percebeu que não ajudaria em nada sendo
tão direto – Quero dizer, por que me deixou?
–
Eu não sei exatamente o porquê. – ela balbuciou entre lágrimas – Eu... eu... eu
estava grávida, fiquei com medo... não sabia o que fazer... fiquei com medo...
–
Grávida? Ficou com medo de quê? – ele perguntou, constatando que suas
conclusões poderiam estar corretas.
–
Fiquei com medo que pedisse para que eu abortasse... não sei... éramos tão
jovens, você estava começando em um bom emprego, eu ainda estava na
faculdade... não sei... – Eloise falava baixinho, engasgando-se com as palavras
que saltavam de sua boca sem sua permissão. Olhando para trás, Eloise percebeu
que não conseguia ver com clareza as razões que a levaram a fazer aquilo.
–
Você pensou mesmo que eu pediria isso? – ele perguntou, sentindo-se irritado,
mas tentando com todas as suas forças guardar isso para si mesmo – Acha que eu
sou tão egoísta assim? Você estava carregando um pedacinho de mim dentro de
você... como você acha que eu seria capaz de pedir que abortasse?
–
Não sei... Só sei que eu fiquei com tanto medo que não consegui pensar
racionalmente. Quando percebi já estava dentro de um ônibus vindo para cá, e a
cada minuto eu me convencia que se te contasse você não aceitaria. Talvez eu
tenha ficado paranoica e não tenha conseguido ver a pessoa que você realmente
era...
–
Olhe bem para mim – largou sua xícara e colocou suavemente suas mãos na face de
Eloise, fazendo com que ela olhasse-o nos olhos – Nunca, jamais, em hipótese
alguma eu pediria que fizesse isso! Eu te amo mais que tudo!
“Passei
anos dedicando cada minuto de meu tempo livre te procurando, imaginando
milhares de motivos que possam ter te motivado a me deixar, pensando onde eu
havia errado. Nunca, nunca, nunca, nunca sequer passaria pela minha cabeça
pedir que fizesse uma coisa dessas! É claro que ficaria assustado, que iria ser
difícil pra nós, mas você escolheu a maneira mais difícil...”
–
Me desculpe. – ela sussurrou, sem saber o que fazer.
–
Não peça desculpas a mim, peça a si mesma por ter sido tão tola a ponto de
pensar que eu era egoísta dessa maneira. – falou, pensando que ser um pouco
duro seria melhor que guardar tudo para si.
Ela
mal conseguia respirar, tal a intensidade com que as lágrimas rolavam. O calor
das mãos de Kenji envolvendo seu rosto fazia com que se sentisse ainda pior por
tê-lo deixado. Percebendo que não suportaria mais olhar diretamente em seus
olhos, Eloise tirou as mãos dele de sua face e abaixou sua cabeça, encostando-a
no tampo da mesa.
–
Me desculpe, de verdade, me desculpe! – ela falou novamente, sendo envolvida
por outra onda de culpa. Não conseguia pensar em mais nada pra falar. Seu
cérebro simplesmente não a deixava dizer outra coisa.
Kenji
a observava sem saber o que fazer, vendo-a soluçar. Num impulso, levantou-se e
deu a volta na mesa, arrastando sua cadeira até o lado de Eloise. Pegou uma das
mãos dela e envolveu com a sua, sua outra mão limpando as lágrimas do rosto
dela.
–
Por favor, pare de se desculpar! Sim, você errou, mas se desculpar não vai
mudar nada. Eu acho que você sofreu tanto quanto eu, ou talvez mais, dada a
responsabilidade que você tinha.
–
Mas eu não tinha o direito de fazer o que eu fiz! – sussurrou, percebendo
coisas que evitara pensar em todos os anos que passaram.
–
Não, você não tinha, mas agora já foi. Eu estou aqui, ao seu lado de novo. –
ele sussurrou – Eu ainda te amo mais que tudo e mesmo que eu tenha perdido
muito da vida da minha filha, sinto que não há o que perdoar. Eu quero
simplesmente estar perto de vocês duas, só isso.
–
Acho que eu me sentiria melhor se dissesse que eu fui uma idiota, que eu não
deveria ter fugido, e que me odeia. –ela disse, mas logo percebeu que não
queria que ele dissesse essas palavras.
–
Você sabe disso, sabe que errou fugindo, mas, acima de tudo, sabe que eu não te
odeio, sabe que eu te amo. Que meu coração nunca teve lugar para mais ninguém,
exceto, agora, para nossa filha. – Kenji disse, percebendo que o simples fato
de saber que a menina era sua filha fazia com que a amasse.
–
Pode me abraçar? – ela sussurrou novamente, sabendo que era egoísta de sua
parte fazer um pedido desses.
Ele
não respondeu, simplesmente chegou mais perto dela e envolveu-a com seus braços
quentes.
–
Eu te amo demais. Nada mudou! – sussurrou ao ouvido de Eloise, e percebeu um
leve arrepio percorrendo o corpo dela, como uma corrente elétrica.
–
Eu te amo ainda mais! – sussurrou de volta, percebendo que suas lágrimas
encharcavam a camisa dele.
–
Quero passar cada segundo da minha vida com você e nossa pequena. – ele disse,
apertando ainda mais o abraço.
Depois
de tomar o chá, Eloise sentiu-se um pouco mais calma. Novamente percebeu que
Harumi vagava pela casa.
–
O que aconteceu, meu anjo? – Eloise perguntou, quando Harumi se aproximou,
chorosa.
–
Mais um sonho ruim. – Harumi respondeu, sentando-se no colo da mãe e a
abraçando.
–
Quer dormir com a okaasan? – Eloise perguntou, acariciando o topo da cabeça da
filha sob o olhar de Kenji.
Harumi
assentiu, grudada à mãe. Eloise levantou-se e foi até o quarto, deitando-a em
sua cama. Kenji veio logo atrás delas e ficou observando pela porta enquanto
Eloise novamente cantava para a pequena.
Depois
de somente alguns segundos percebeu que a respiração de ambas havia se tornado
mais ritmada, leve e chegou mais perto, constatando que mãe e filha haviam
dormido. Não sabia se era certo, mas sentiu a necessidade de se deitar com
elas. Afastou o cobertor e enfiou-se sob ele, bem ao lado de Harumi, Eloise do
outro lado.
Mesmo
sem saber, com mãe e pai ao seu lado, Harumi pôde dormir sem mais pesadelos.
Realmente o medo faz as pessoas agirem sem pensar
ResponderExcluirTa ficando cada vez melhor Ise-chan XD
So sorry Elo!! Eh q qnd termino um capitulo quero ler o outro logo e esqueço de comentar xDD
ResponderExcluirMas, oq posso dizer... tah muuuuuuuuuuuuuuito boa a historia. Sua filha eh mto kawaiii <33
Tenho ateh medo doq vai acontecer com o Jun daqui pra frente, mas vamos nós ver ^^