Capítulo 20
–
Jessie, você pode me explicar o que aconteceu? – Aiba perguntou, alguns minutos
depois de Eloise sair bufando. Jéssika havia sentado novamente no sofá, e
permanecera olhando fixamente para a parede oposta.
–
É complicado. Muito complicado. – Jéssika respondeu baixinho, os olhos ainda
fixos na parede.
–
Você está bem? – Aiba falou, segurando-a pelos ombros e a obrigando a tirar os
olhos da parede e olhar para o rosto dele.
–
Não sei. Acho que eu fiz uma coisa errada, mas não tenho certeza. – seus olhos
encheram-se de lágrimas que logo começaram a escorrer por sua face – Quer
dizer, eu achava que estava fazendo uma coisa boa, mas tudo aconteceu tão
rápido...
–
Porque ela estava gritando? – Aiba continuava a olhar dentro dos olhos
marejados de Jéssika.
–
O pai da Haru encontrou-a, e fui eu quem contou para ele onde ela estava. –
Jéssika falou, mais lágrimas escorrendo por sua face.
–
Espera, explica direito: ela estava se escondendo ou algo assim? – perguntou, ainda
mais confuso.
–
Mais ou menos isso. – ela começou a explicar, percebendo que ia ter que contar
desde o início – Quando descobriu que estava grávida, a Eloise fugiu, achando
que o pai da Haru ia pedir para abortar, até porque ambos eram muito jovens. Ela
ainda estava no segundo ano de faculdade e ele tinha terminado há pouco tempo. Eloise
acabou voltando para cá, e pediu que ninguém contasse para ele onde ela estava.
Por muito tempo, ele ligava para a mãe dela perguntando, ligava pra mim, para
todos. Até veio pra Foz procurá-la, mas não encontrou. E foi assim por três
anos.
“Eu
sempre estive aqui, ao lado dela. Vi o sofrimento dela, sentindo saudades,
tendo que sustentar uma filha sozinha enquanto fazia faculdade. Foi muito
difícil. Os últimos dias foram especialmente difíceis, então eu decidi ligar
pra ele.”
Flashback on
Jéssika
mantinha Eloise segura em um abraço apertado, a amiga chorava muito. O vídeo
fora mais do que ela podia suportar.
Eloise
passara a noite em claro, chorando. Jéssika esteve ao seu lado boa parte do
tempo, ouvindo tudo o que a amiga conseguia dizer entre lágrimas e soluços.
Eloise contou-lhe sobre o beijo de Jun e sobre o que achava que sentia por ele.
Mas não fazia sentido pensar nisso depois do vídeo de Kenji.
–
Você realmente ligou pra ele? – Jéssika perguntou.
–
Sim, há algumas noites, logo que o Arashi chegou. – Eloise respondeu, ainda
soluçando, abraçada à amiga – Foi por impulso, eu precisava ouvir a voz dele.
Depois de algum tempo, Eloise praticamente implorou
que Jéssika a deixasse sozinha. Contrariada e preocupada com a amiga, Jéssika
começou a analisar tudo o que acontecera e todo o sofrimento a que Eloise se
submetera com a distância que estabelecera entre ela e Kenji. Não havia como
negar que ela o amava muito e, pelo que mostrava o vídeo, ele ainda a amava
também.
Jéssika
sempre foi assim: preocupava-se mais com os outros do que com si mesma. Não
importava o que acontecesse, sempre ofereceria seu ombro a um amigo que
precisasse.
Durante
horas, ela esteve pensando no que poderia fazer pra ajudar sua amiga. Vê-la
sofrer lhe deixava mal, como se tivesse sempre um peso sobre seu coração.
Foi
mais inconsciente do que conscientemente que revirou seus armários atrás da
agenda onde sabia que tinha anotado o número de Kenji – muitos anos atrás–,
pegou seu celular e discou o número.
–
Alô – Kenji atendeu, sua voz embargada de sono mostrava que estava dormindo, e
só nesse momento Jéssika percebeu que o dia já estava quase amanhecendo e ela não
dormira nada. – Oi? – Kenji insistiu.
–
Oi, desculpe te acordar. – ela disse, ciente de que tinha um bom motivo para
acordá-lo.
–
Quem tá falando? – Kenji perguntou, quase sussurrando.
–
É a Jéssika, amiga da Eloise. – Jéssika falou, sabendo que ao som desse nome,
ele certamente acordaria de vez.
–
Eloise? Jéssika? – Como previra, ele acordou, mas confuso.
–
Vi o seu vídeo. Ou, melhor dizendo, nós vimos seu vídeo.
–
Nós? – Kenji ponderou e logo falou mais alto, como se estivesse entendendo o
motivo do telefonema somente naquele momento, uma nota de esperança em sua voz
– Espera, você está com a Eloise?
–
Estou. – Jéssika confirmou, ciente de que a amiga poderia matá-la pelo que
estava fazendo – Sinto muito não ter
contado durante todos esses anos, mas é que ela me proibiu. Não que agora ela
tenha deixado, mas é que eu não suporto mais vê-la sofrer.
Jéssika
percebia que Kenji estava mais animado a cada palavra que dizia, como se sua
vida estivesse mergulhada em trevas e agora ele estivesse vendo uma luz no fim
do túnel. Fez com que ele prometesse não ligar para Eloise nem nada do tipo,
que somente aparecesse, sem dar a ela a chance de fugir novamente. Passou-lhe o
endereço e, quando ele perguntou se ela estivera nesse lugar durante os três
anos que se passaram e Jéssika confirmou, ele começou a falar sozinho,
punindo-se por não ter procurado direito.
Depois
de acalmá-lo, Jéssika concluiu que era hora de dormir. Desde que o Arashi
chegara ao Brasil, não tivera nenhuma noite completa de sono, e seu corpo
começava a reclamar.
Flashback off
–
Considerando tudo o que me contou, acho que fez o certo, mesmo que ela a tenha
feito prometer não contar nada... – Aiba ponderou, segurando as mãos de Jéssika
e limpando uma lágrima que escorria em sua face.
–
É, mas tem outra coisa que me incomoda. – ela falou – Eu venho sentindo, a cada
dia, que o sentimento da Eloise pelo Jun vem crescendo e se modificando.
–
Como assim?
–
Ela é fã de vocês há quase 11 anos e o Jun sempre foi o ichiban dela, não
importa o quanto ela gostasse dos outros 4. Costumávamos falar dele como marido
dela. – Jéssika explicou – Aí ele chega, todo sedutor, com aquele sorriso
lindo, do jeito que ela sempre sonhou, despejando todas as qualidades dele
sobre ela. Seu coração estava instável, procurando uma maneira de fazer com que
o sofrimento pelo qual ela passava terminasse.
“Nos
primeiros dias, ela tentou com todas as forças, vê-lo como sempre viu, mas logo
foi perdendo as forças, o coração dela foi se entregando, e agora ela está sem
saída. O amor da vida dela voltou, o maior sonho dela se realizou e a coisa
mais impossível está acontecendo. Eu me sinto culpada por tê-lo trazido de
volta logo agora que o coração dela teria outra chance.”
–
Não fique assim, porque ela é uma pessoa racional e totalmente capaz de decidir
o que é melhor pra ela. – Aiba falou, ocultando sua preocupação com o coração
do amigo, que certamente seria o mais prejudicado.
–
Espero não ter piorado tudo. – Jéssika choramingou.
–
Não piorou, acredite. – ele disse, olhando-a nos olhos.
Apesar
de não ser na melhor situação, nessa noite, Aiba pôde perceber uma qualidade
que ele e Jéssika tinham em comum: o valor que davam à verdadeira amizade.
Ainda
mantinham as mãos juntas, apertadas, e foi nesse momento que seus olhares se cruzaram
novamente. Uma fração de segundo se passou, enquanto olhavam fundo nos olhos um
do outro, analisando cada coisa que tinham em comum.
Aiba
aproximou-se ainda mais e, no impulso, encostou levemente seus lábios sobre os
dela. Inesperadamente, Jéssika correspondeu ao seu beijo, fazendo com que seus
lábios se movessem numa sincronia perfeita. As mãos de Aiba passaram para as
costas dela, subiram até seu cabelo, sempre acariciando.
Tão
rápido quanto começara, o beijo terminou, Jéssika e Aiba ofegando. Durante
alguns segundos evitaram olhar um para o outro, mas quando os olhos se
encontraram, os dois começaram a rir alto, gargalhar.
–
Por que fizemos isso mesmo? – Aiba perguntou, ainda rindo.
–
Não faço ideia! – ela respondeu, por um momento, se esquecendo de todo aquele
sentimento de culpa que carregava e sorrindo.
–
Posso repetir? – Aiba perguntou, observando-a seriamente.
Jéssika
parou de rir, observando Aiba. Decidiu que não era necessário que respondesse,
então se aproximou dele novamente.
Dessa
vez, o beijo não teve o mesmo clima que o anterior – calmo, ritmado –, era
quente, inconstante e fez com que o coração dos dois perdesse o compasso.
Somente quando Jéssika sentiu suas costas encostarem-se ao assento do sofá,
percebeu que estava deitada, Aiba sobre ela. Parou o beijo, e empurrou-o
levemente com uma das mãos.
–
O quê? – ele sussurrou – Algum problema?
–
Rápido demais! – ela sussurrou de volta.
–
Mais devagar então? – ele perguntou, levantando-se.
–
Hai. – ela confirmou, sentindo que seu coração ainda batia no ritmo do beijo.
–
Devagar quanto? – ele perguntou, torcendo para que Jéssika não fosse tão
conservadora quanto imaginava.
–
Devagar o suficiente para que a razão domine a emoção. – Jéssika falou e Aiba
percebeu que ela não era conservadora, mas sim racional.
–
Vou me esforçar. – ele sorriu, deixando algum espaço entre ele e ela no sofá e
estendendo uma das mãos para que ela segurasse.
–
O filme acabou, né? – ela reclamou – Acho melhor escolhermos outro...
–
Nada de terror, tá bom?
Jessie ♥ Aiba - Eu apoio totalmente
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