Capítulo 15
–
Oi? – Jun falou, confuso, assim que viu Eloise.
–
Oi. – Eloise respondeu.
–
Okaasan, é ele, não é? – Harumi repetiu, curiosa, puxando a barra da camiseta
de Eloise.
–
É sim, Haru. – Eloise limitou-se a responder. – Entre.
Lhaisa,
que estivera ouvindo tudo da sala, ficou sem saber como reagir quando viu
aquele homem entrando. Simplesmente levantou-se e cumprimentou-o em japonês.
–
Essa é minha amiga, Lhaisa. – Eloise falou para Jun – E essa é minha filha,
Harumi.
A
expressão de pânico que Jun não pôde conter quando Eloise apresentou-lhe Harumi
como sua filha foi a deixa que Lhaisa precisava para pedir licença, pegar
Harumi no colo e ir para a casa de Jéssika.
–
Por que você nunca nos disse que tinha uma filha? – Jun conseguiu falar depois
de algum tempo de silêncio.
–
Porque ninguém nunca me perguntou. E também, era realmente necessário que você
soubesse? – Eloise respondeu, sem perceber que poderia parecer grosseira.
–
Desculpa, não queria me meter na sua vida. – Jun falou perante a grosseria de
Eloise.
–
Eu que me desculpo, afinal, eu podia ter contado. – nem Eloise sabia o motivo
de ter omitido a existência de sua filha até então.
–
Então você é casada? – Jun perguntou, concluindo que, se ela tem uma filha,
então também deve ter um marido.
–
Não. Sou mãe solteira. – Eloise falou.
–
Ele morreu? – Jun perguntou, confuso.
Eloise
contou a ele toda sua história com Kenji até o momento em que fugira. Preferiu
não dizer que ainda o amava, e que o motivo de não corresponder a Jun como ele
queria era esse.
–
Entendi. – Jun falou assim que ela terminou – E você nunca mais falou com ele?
–
Não. Ele nem sabe da Haru. – Eloise explicou.
–
Quer saber... – Jun foi interrompido pelo celular que tocava insistentemente em
seu bolso. Ele atendeu e, a cada palavra que ouvia, sua face ia perdendo cor.
Levantou-se e foi até a porta, sem dizer uma palavra.
Quando
estava no meio do corredor, lembrou-se de Eloise e correu de volta.
–
Desculpe, eu preciso mesmo ir. Depois eu te explico. – Ele falou, agitado e
parecendo bastante preocupado, em seguida saiu correndo.
–
Nem me falou como chegou aqui... – Eloise reclamou.
Assim
que Jun saiu, Lhaisa entrou correndo na casa, falando coisas desconexas.
–
O que aconteceu? Ei, se acalma. – Eloise falou, sacudindo a amiga.
–
Liga pro SAMU agora! – Lhaisa falou, tomando o telefone da mão de Eloise.
–
O QUE ACONTECEU? – Eloise gritou, irritada e preocupada.
–
A Jéssika... – Foi a única coisa que Lhaisa conseguiu dizer antes de Eloise
sair correndo até o apartamento da outra.
Jéssika,
que era uma boa amiga e uma pessoa com quem Eloise podia contar em todas as
horas, tinha a saúde muito fraca e de tempos em tempos acabava no hospital.
Quando
entrou no apartamento, logo Eloise ouviu o choro de Harumi vindo da direção do
banheiro. Jéssika estava desmaiada no chão, o secador de cabelos ligado e
Harumi chorava ajoelhada ao lado dela.
Sem
saber o que fazer, Eloise sentou-se ao lado da amiga e colocou a cabeça dela
sobre sua perna, esperando que Lhaisa tivesse conseguido chamar o SAMU.
Alguns
minutos depois, a ambulância chegou, e levaram-na para o Hospital mais próximo.
Harumi ainda soluçava quando Elô finalmente tomou-a em seus braços e tentou
acalmá-la.
–
A Tia Jé vai ficar bem, tá bom? – Eloise falou enquanto tentava acalmar a si
mesma. Lhaisa fora junto com a ambulância.
–
Ela vai mesmo? – Harumi perguntou entre lágrimas e soluços.
–
Vai sim. Agora vamos lá para o hospital ver se estão cuidando bem dela. –
Eloise falou, fechando a porta do apartamento da amiga.
~~
Jun
correu até o carro que o aguardava na entrada do prédio e pediu que o levassem
para o Hospital mais próximo. Ao chegar lá, encontrou Sho, Ohno e Nino sentados
em cadeiras na sala de espera. Seu coração batia violentamente, e ele tentava
entender tudo o que estava acontecendo.
–
Alguém pode me explicar? – Jun falou, estressado.
–
Hoje pela manhã eu fui brincar com o Aiba, e acabei tocando a testa dele. – Sho
explicou – Estava muito quente. Eu perguntei há quanto tempo ele estava assim.
–
Sempre fingindo que está bem quando não está! – Jun reclamou.
–
Ele disse que já fazia uns três dias que não estava se sentindo bem. – Sho continuou
– Eu perguntei se ele não queria ir ao médico. Ele disse que não e tomou um
antitérmico.
–
E quando nós voltamos da sala de jogos do Hotel ele estava desmaiado. – Nino
terminou.
–
Chamamos uma ambulância e agora estamos aqui, né?! – Ohno falou.
–
E como vocês estão fazendo pra falar com as pessoas? – Jun perguntou.
–
Um dos staffs fala português, por sorte. – Nino explicou.
Jun
largou-se numa cadeira ao lado deles e fez a única coisa que poderia fazer
naquele momento: esperar. Tirou o celular do bolso, pegou os fones e colocou-os
no ouvido. Ele se recusava a pensar na conversa que tivera há pouco com Eloise.
Nino,
Sho e Ohno, percebendo que havia algo de errado, deixaram-no quieto, sabendo
que se tentassem perguntar algo naquela situação, Jun acabaria sendo grosseiro.
Alguns
minutos depois, Sho cutucou o braço de Jun, e este se obrigou a abrir os olhos
e tirar um dos fones. Eloise estava entrando na sala de espera com Harumi em
seus braços.
–
É a filha dela. – Jun falou. – E não me perguntem mais nada sobre isso.
Diante
do que Jun dissera, os outros concluíram que era esse o motivo do seu mau
humor.
–
O que vocês estão fazendo aqui? – Eloise falou quando os viu sentados – Cadê o
Aiba?
–
É esse o motivo de estarmos aqui. – Sho explicou.
–
Ai meu Deus! O que aconteceu com ele? – Eloise perguntou, entrando em pânico
novamente. Harumi estava adormecida em seus braços.
Sho,
Nino e Ohno lhe explicaram o que havia acontecido. Logo Eloise sentou-se ao
lado de Nino, o mais distante possível de Jun.
–
E você? Por que está aqui? – Nino perguntou.
–
Minha amiga passou mal. – Eloise falou, simplesmente.
–
Então você tem uma filha? – Sho não pôde se conter.
–
Sim. Essa é minha Harumi. – Eloise falou, e todos olharam para a pequena de
cara chorosa adormecida em seus braços. – Ela chorou até cansar.
Alguns
minutos se passaram enquanto Eloise lhes contava a história de Harumi e em
seguida sobre a amiga que estava desmaiada. Logo Lhaisa se juntou a eles.
Quando viu que Eloise estava sentada ao lado do Arashi, cumprimentou-os em
japonês e sentou-se em silêncio, só ouvindo o que eles diziam. Ela preferiu não
interromper a conversa. Somente ficaram aguardando informações sobre Aiba e
Jéssika.
Um
médico aproximou-se e perguntou pela família de Jéssika. Eloise e Lhaisa se
levantaram e conversaram com o médico. Ele explicou que o desmaio foi
decorrente de uma crise talassemica. Eloise já sabia da doença da amiga, que
era um tipo de anemia que, às vezes, quando a imunidade dela estava mais baixa,
a fazia dormir por dias inteiros.
Então,
mais calmas, Lhaisa e Eloise foram até o quarto da amiga, ver como ela estava.
Como Harumi não poderia entrar, pediu aos meninos que ficassem de olho nela,
prometendo voltar o mais rápido possível.
Assim
que as duas saíram, o staff que falava português apareceu, dizendo que eles
podiam ir até o quarto de Aiba vê-lo.
–
O que nós fazemos com a garota? – Ohno perguntou.
–
Não podemos levá-la. – Nino completou.
–
E não podemos deixá-la sozinha. – Sho terminou.
–
Podemos deixá-la aí com o Jun né? – Ohno falou, olhando para o amigo que
parecia estar em transe, ouvindo música com os olhos fechados.
–
Acho que eles vão ficar bem juntos. – Sho concluiu, olhando do amigo em transe
para a garotinha adormecida.
–
Vamos então! – Nino chamou, enquanto Sho colocava Harumi na cadeira ao lado de
Jun.
~~
No
sala silenciosa, Harumi acordou. A primeira pessoa que viu ao seu lado foi Jun,
que estivera mais cedo em sua casa.
–
Ô Tio! – Harumi cutucou o braço dele. – Tio!
Ainda
mais irritado que antes, Jun arrancou os dois fones e olhou para o lado, onde
acreditava que Sho estava sentado, mas a única pessoa que encontrou foi a
pequena Harumi, encarando-o com olhos chorosos.
–
Tio, você sabe onde está a minha okaasan? – Harumi perguntou, sorrindo.
Sem
entender nada do que a garotinha falava – exceto a palavra mãe – Jun não sabia
o que fazer. Procurou Eloise por todos os lados, mas não a encontrou.
Finalmente, desistiu e ficou quieto.
Percebendo
que Harumi estava prestes a chorar, puxou novamente o celular do bolso e ligou
uma música. Ofereceu o fone pra ela, que aceitou sem pestanejar. A música que
tocava era Love Rainbow e logo Harumi começou a cantar junto. Eloise ouvia Love
Rainbow com bastante frequência, e Harumi acabou aprendendo a cantar junto com
a mãe. Assim que Jun percebeu que a garotinha estava cantando, começou a cantar
junto também.
Depois
de 4 ou 5 músicas, Eloise e Lhaisa voltaram e deram de cara com os dois muito
animados cantando juntos.
–
Parece que eles se dão bem. – Lhaisa analisou.
–
Onde será que estão os outros? – Eloise perguntou.
–
Acho que é melhor perguntar para ele. – Lhaisa respondeu.
Aproximaram-se
deles em silêncio, e assim que Harumi viu a mãe gritou “Okaasan! Olha, eu fiz
um novo amigo!”.
–
Onde estão os outros? – Eloise perguntou para Jun enquanto pegava Harumi no
colo.
–
Acho que entraram. Eu estava ouvindo música e não vi nada. Só tirei os fones
quando ela começou a me cutucar. – Jun explicou – Ela falou algumas coisas, mas
eu só entendi “mãe”, então eu concluí que ela queria você. Eu não sabia o que
fazer, e não ia conseguir me comunicar com ela, aí eu coloquei música e
começamos a cantar juntos.
–
Obrigada por cuidar dela. – Eloise falou, pensando na situação em que colocara
Jun.
–
Não foi nada. – Jun falou – Você sabe em que quarto o Aiba está?
–
Acho que é ao lado do da Jéssika. – Eloise falou – Entra naquela porta ali e
segue o corredor até o final, aí vira para a direita. É o quarto número 308.
–
Vou lá. – Jun falou e saiu, seguindo as instruções de Eloise.
–
Vamos, Haru! – Eloise falou, saindo do Hospital.
–
Como está a Tia Jé? – Harumi perguntou.
–
Ela vai ficar bem. Amanhã a mamãe vem buscá-la. – Eloise explicou.
~~
Depois
de vários minutos ouvindo sermões dos quatro por não ter contado que estava se
sentindo mal, Aiba disse que queria dormir e pediu que fossem embora,
prometendo ficar bem. O médico disse que ele deveria passar a noite em observação,
mas que no dia seguinte provavelmente receberia alta.
Ligou
a televisão e constatou que não iria entender nada do que estava passando,
afinal era tudo em português, então simplesmente virou-se para o lado e tentou
dormir.
Vários
minutos se passaram, e Aiba não conseguia dormir de jeito nenhum. Todo o mal
estar havia passado e ele só queria sair dali. Começou a pensar no DS de Nino,
que seria uma boa distração. Perdido em pensamentos, assustou-se quando ouviu
um grito:
–
Merda! Eu quero meu notebook! Eu quero assistir dorama! Estou morrendo de tédio
aqui! – E o mais incrível é que Aiba entendera tudo.
Totalmente
desperto e curioso, Aiba levantou-se, vestiu as pantufas, e saiu pé ante pé do
quarto até o quarto vizinho, de onde acreditava que tivessem vindo os gritos.
Bateu
duas vezes na porta.
–
Quem é? – Jéssika perguntou, rabugenta.
Sem
entender o que ela dissera, Aiba enfiou sua cara no quadrado de vidro da porta,
amassando o nariz.
Jéssika,
ao ver aquele rosto na porta de seu quarto, ficou sem reação. Nem conseguia se
lembrar como dizer pra ele entrar em japonês. Tudo parecia tão surreal.